DRINK
Maria Cláudia Mesquita
 
 

Enquanto leio algumas histórias fora do meu tempo, coloco-me naquela minha irrealidade ao me sentar no meio da platéia. Transporto-me além de mim vestida de outra verdade, sou outra. Em cada música sinto um presente passando nas veias e uma voz vindo de dentro em grito arranhado, sussurrado em meus próprios ouvidos ao mesmo tempo em que um arrepio toma conta de uma louca sede de passado. Ele.

Contorno meus lábios e delimito os caminhos dos meus olhares e vejo bem ali, no centro, aquele que insiste em não me ouvir. Seco meu silêncio e grito do meio do tumulto do bar um novo ritmo. De pé, sem ensaio, convido os cantos dos instrumentos elevando todos os meus sentidos. Consigo sobrevoar até o palco, sobre nuvens e luzes de saudade e desejo. Passo com ele meus instantes, blues. Posso cantar fazendo meu corpo vibrar todas as notas. Os aromas das palavras e mais arrepios. Um beijo e um silêncio dos dentes segurando a boca por dentro.

Em um gole, volto ao meu lugar, relendo letras e encanto. Além de ouvir e colocar em letras cada doce azul de uma serena vontade.