DEUS AJUDA QUEM CEDO MADRUGA
Adão Jorge dos Santos
 
 

Chequei antes da meia-noite e a fila já estava grande. Eu sabia que haveria poucas vagas para o emprego que pretendia. Antes de sair de casa tomei um banho e aparei a barba e vesti um traje social. A gravata apertava um pouco o pescoço, mas era um sacrifício suportável para uma boa causa. Trazia no bolso do casaco a carteira profissional, as fotos, os xerox solicitados, o currículo e uma recomendação do último emprego, tudo dentro do conformes.

O que me chamou a atenção na fila, assim que cheguei, foi a fato de que eu era o único com aspecto de quem buscava um emprego. A primeira pessoa da fila, um senhor idoso, com as roupas imundas e parecendo um mendigo de rua, dormia tranqüilamente enrolado em um papelão. Ao seu lado duas mulheres sentadas em um caixote, também maltrapilhas, não pareciam interessadas no emprego oferecido. Depois um rapaz de casacão do exercito tênis e boné, também não condizia com quem buscava um trabalho. Os demais aparentavam estar ali apenas por não ter outra coisa para fazer na vida.

A minha expectativa em conseguir a vaga anunciada no jornal era grande, eu preenchia todos os requisitos exigidos, tinha experiência na função, conhecimento de informática e conclusão do ensino médio. Estava plenamente apto para a concorrer a vaga.

Não sei se cochilei um pouco ou se o que aconteceu na fila passou despercebido por mim, o fato foi de que havia outras pessoas na minha frente, pessoas que não estavam ali antes. Elas iam chegando calmamente e ocupando os lugares das pessoas que estavam ali antes. Então entendi o que estava acontecendo. Aquelas pessoas estavam vendendo lugares na fila e bem na minha frente. E eu não podia fazer nada para impedi-los de entrarem na minha frente, e nem punir aqueles que estavam vendendo os lugares.

Quando a porta abriu e os primeiros entraram com seus currículos e documentos em suas mãos, percebi que não tinha mais nada o que fazer ali. Fui para casa na expectativa de que amanhã seria outro dia.