O RICARDÃO FALASTRÃO
Waldyr Argento Júnior
 

Andando lá pelas ruas do meu bairro encontrei meu velho amigo de botequim, o Souza, que me contou esta historinha que vou tentar narrar-lhes agora. Ela retrata a que ponto pode chegar o exibicionismo de um "Ricardão" de meia idade.

Nosso digníssimo destruidor de lares vivia contando vantagem sobre suas aventuras com a despudorada namorada. De tanto ir fundo na gruta do desejo e não se preocupar com o ensejo, a adúltera acabou engravidando.

O tal Dom Juan começou a espalhar para o bairro todo que seria papai, e a criança era de uma mulher casada. Ainda bem que pelo menos teve a decência de não divulgar para ninguém a identidade secreta da dita cuja. Ele fazia planos no boteco com os amigos de como iria cuidar do filho. Comprou até um livreto com mil e não sei quantos diferentes nomes de bebês. Estava tão animado o Falastrão que acabou contando detalhes íntimos sobre o nascimento do Guri. O tamanho do "bilau", que segundo ele era tão grande quanto o seu, o sorriso, os olhos e escambau.

Um belo dia, acabou confessando com certo orgulho que na primeira vez que pegou o moleque pelado no colo, levou uma baita de uma mijada na fuça. E foi assim deixando crescer em todos uma certa curiosidade sobre o seu primeiro herdeiro.

- E aí Camilo, quando é que você irá trazer o seu filho pra gente conhecer?

- Calma lá pessoal. Eu vou esperar o exame de DNA.

- Pô amigão, você não disse que o garotinho é a sua cara?

- É claro! Trata-se apenas de uma formalidade. Eu só não registrei no meu nome porquê minha doce amada é casada...

Algum tempo depois o Souza estava bebendo a sua gelada de sempre na padaria da esquina, quando percebeu no chão um lindo arranjo de flores que provavelmente havia caído das mãos de uma pessoa distraída. Recolheu o apetrecho e começou a tentar restaurá-lo. Disse-me que não sabia a razão, mas que tinha uma ligeira intuição de que brevemente o tal objeto lhe seria de grande valia.

Após mais uma cerva, percebeu a chegada do Camilo. Ele caminhava a passos lentos e com um leve tom de tristeza no semblante. Não entendeu muito bem o motivo, afinal o cara era o maioral do bairro. Namorava uma bela "Bela Ragazza" de vinte e pouco aninhos e que lhe dera de presente um belo de um "banbino". De qualquer forma, resolveu conversar com o tal sortudo.

- E aí irmão, tudo bem?

- Que nada Souza! Tô numa pior.

- Que foi, a namoradinha lhe deu um pé na bunda?

- Antes fosse isto! Estou vindo lá do laboratório com resultado do teste de paternidade...

- Não vai me dizer que o guri não é seu?

- Pois é, depois de tudo... Sabe como é, né?

- Diante deste fato eu então, só posso tomar este arranjo de flores e oferecê-lo em sua homenagem!

- Como assim Souza, não estou entendendo?

- Estou apenas fazendo as honras da casa: É com imenso prazer que lhe entrego o troféu "Amante Corno"!
 
 
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