SILÊNCIO
Jorge Costa Filho
 
 
Calado pra sempre não hei de ficar
A voz da garganta ainda vai se soltar
Ainda que eu não seja ouvido
Mais vale a verdade liberta
Do que presa a nos sufocar

Se não há palavras que expressem além
Do que o silêncio retrata tão bem
Silêncio é boca fechada
Quem cala consente a empreitada
E aplaude ao fim da jornada

Precisa-se ao menos dizer: Não gostei
Da etapa que foi reservada pra mim
Dei tudo demais no plantio
Dia e noite, sol, chuva, calor ou frio
Pra me ver da colheita excluído

Troquei os meus sonhos por calos nas mãos
Quebrei muitas pedras com meu coração
Mantendo acesa a esperança
De um povo que nunca se cansa
De crer que ainda vai desfrutar
Da bonança que planta
Pra quem lhe devolve em troca a miséria
Se faz de boiada pra não ir à luta
Em prol do quinhão do suor da labuta
E o silêncio é selado então