O POTE AZUL
Ly Sabas
 
 

O pote azul estava bem ali, na borda da banheira, entre a vela de canela e o cálice de vinho tinto. Laivos vermelhos da chama no azul. Bastaria esticar o braço, retirar a tampa e sentiria o perfume almiscarado. No gesto reviveria a maciez do creme passando de suas mãos para as pernas musculosas que não mais teria entre as suas. Nunca mais ter o corpo enlaçado por elas, a pele arranhada em fricção alucinante. Não mais as usaria de travesseiro em momentos ternos, nem de apoio nos de paixão. Bastaria abrir o pote para mascarar o cheiro de abandono. Não faria isso, nem ficaria eternamente na água gelada, não esperaria o apagar da vela, mas beberia o vinho e brindaria o fim da longa espera.

Através da cortina
Desenha o sol
Colcha de luz

 
 
fale com a autora