SOBRE ESPERANÇAS
Renato Bruno Neto
 
 

Espero morrer dormindo. Mas até lá espero poder dormir todas as noites como criança e conseguir ir ao banheiro pelo menos duas vezes ao dia, sem fazer muita força, também como acontece com as crianças. Espero nunca ser assaltado, abusado sexualmente ou me envolver nalgum acidente que produza vítimas fatais. Espero não precisar enterrar um filho e assim ser enterrado vivo, antes da hora, perdendo as esperanças dessa vida diante de uma tragédia tal. Espero também não ser traído pelos amigos e nem pelos meus próprios impulsos humanos, tão naturais, que costumam contrariar as minhas mais profundas convicções. Espero amar para sempre aquela a quem dei minha palavra de honra há tantos anos e que ela cumpra também o que me prometeu. Espero não ficar desempregado, não passar fome, não passar frio e nem passar vergonha diante de gente que nem faz idéia de que o mundo é redondo e de que não há nada nessa vida como um dia após o outro. Espero encontrar a felicidade ou pelo menos alguém que me explique o que é que exatamente felicidade quer dizer. Espero ainda ter a paciência para esperar por tudo isso, sem deixar que a ansiedade ou a solicitude venham estragar algum infalível plano do destino já traçado. Mas isso tudo é só esperança, são apenas expectativas. Ou seja, apesar de serem as últimas a morrer, não querem dizer nada demais.