TRAJE COMPLETO NA RODOVIA
Andrea Natali
 
 

Casamento é um evento grandioso para os noivos e também para os convidados. Afinal, não é uma simples festinha, é o CA-SA-MEN-TO. Para o homem, não faz tanta diferença, é só colocar um terno, gel no cabelo e está pronto. Mas a mulher faz da festa de um casório o acontecimento do mês.

Quando minha prima Viviane casou, não foi diferente. Eu e minha mãe ficamos três horas no salão de beleza para fazer cabelo e unhas. Meu pai e meu noivo quase ficaram loucos, porque o casamento era do outro lado da cidade, íamos levar uma hora para chegar lá e já estávamos atrasados.

Fomos em dois carros: meus pais, eu e meu noivo em um, minha irmã e o marido em outro. Estava tudo muito bem, quando entramos na Via Dutra, na pista expressa sem saída para bairro (a saída desta pista é só em Guarulhos), o carro pifou! Superaquecimento! Ai meu Deus! E agora?

Imagine você toda linda vestida para o casamento, segurando o cabelo para o vento não desmanchar a escova e parada no acostamento da Rodovia Presidente Dutra, sem uma alma viva para lhe salvar. É cômico, mas na hora foi triste! Meu cunhado ainda atravessou a pista (maior perigo, não faça isso!) e pegou água para colocar no radiador. Já tínhamos chamado o serviço de resgate da concessionária que administra a rodovia, mas como eu já trabalhei lá, sabia que ia levar um tempinho...

Salto fino, vestido, maquiagem, terno, tudo isso na beira da estrada. Gastei uma nota do salão de beleza para ficar parada no meio da rodovia! Ninguém merece!!! Mas a saga desta aventura continuou e isso foi só o começo!

O guincho chegou e levou-nos até a oficina mais próxima. Linda e maravilhosa andando de guincho! Assim que chegamos, um lugar não muito bonito, eu e minha mãe pulamos para o carro do meu cunhado. Afinal, não ficava bem para três mulheres lindamente vestidas paradas em frente a um bar, ao lado de uma oficina em Guarulhos.

Depois de um certo tempo, o carro foi consertado. Meu pai queria voltar, pois estava com medo do carro dar problema novamente, mas nós mulheres insistíamos, pois estávamos bem longe de casa, o casamento era em São Miguel Paulista e não estávamos de traje completo para dar uma "voltinha" na oficina. Sendo assim fomos, rezando a cada ameaça do carro de pifar, mas chegamos. E ainda aproveitamos um bom pedaço da festa.

Meu pai, coitado, só não teve uma crise nervosa porque o Todo-Poderoso ajudou, pois o pior ainda estava por vir.

O danado do carro continuou aquecendo, mesmo o mecânico garantindo que não aconteceria mais. Uma volta para casa muito tensa. Acho que nem no dia do ataque do PCC nós ficamos tão tensos. E mesmo andando devagar, o carro parou de vez na rodovia Ayrton Senna. Tudo escuro, com uma favela logo à frente e todos nós com caras de pessoas ricas (afinal estávamos em trajes completos para a festa), o pânico tomou conta. Naquele momento, qualquer Zé mané que passasse ali, levava tudo o que tínhamos.

A picape do meu cunhado foi a nossa salvação. Pena que a corda não era muito boa, mas a bichinha resistiu e muito! O carro parou de vez, não dava nenhum sinal de vida. A solução foi meu cunhado ir guinchando o carro do meu pai. De onde estávamos até a minha casa, a distância é de uma pouco mais de 30 quilômetros. Então, a aventura estava no auge! Lá vamos nós!

Eu e meu noivo fomos para o "chiqueirinho" da picape; meus pais ficaram no carro; as cordas uniram os dois carrinhos lindos, que seguiram juntos pelas Marginais Tietê e Pinheiros... Acho que nunca andei tão devagar nessas vias de São Paulo. Nem congestionamento é tão agonizante.

Vinha tudo muito bem até ao entrar na Raposo Tavares (eu moro no comecinho desta rodovia), ouvimos um estrondo. Que desespero! Deve ter estourado algum pneu, alguma coisa, sei lá. Mas não! A corda arrebentou. O movimento da curva de afrouxar e esticar novamente não resistiu e arrebentou a corda.

Os homens a amarraram de novo. Ela ainda agüentou mais um pouco. Arrebentou de novo. Outro nó. Andamos mais alguns metros. E na reta final, uma subida, já não tinha mais corda para unir dois carros. A coitada arrebentou pela quarta vez e o carro não ia chegar até a minha rua.

Aí, de ré, meu pai levou o carro até o posto de gasolina - parecia filme -, que fica no começo dessa subida e deixou lá. Esperaria até segunda-feira de manhã para chamar o guincho. E nós seis, voltamos todos apertadinhos na picape (no chiqueiro e na caçamba) para, enfim, depois de quase três horas, chegar em casa.

Foi um negócio desesperador. Mas foi muito divertido também. Ainda bem que meu traje não ficou só na estrada, ele ainda passou pelo casamento e fez muito sucesso.