GORDOLÂNDIA
Rita Alves
 
 

Uma cidade só de gordos, segregação total! Magros seriam proibidos. Gordos só entrariam mediante uma pizza 4 queijos. Cheddar, ingrediente obrigatório.

Imagine um mundo repleto de gordos felizes e suas banhas saltitantes. Mulheres usariam roupas justas, aquelas que deixam a silhueta em forma de um queijo provolone com cordinha (humm), e calças de cintura baixa pra dar maior liberdade à pancinha. Porque pança que é pança tem que ser livre! Sem condicional! Pra dar tapinhas na barriga e dizer “ó, sou gorda e daí?”. Ah, que maravilhoso! Os homens não teriam vergonha das suas barrigas desproporcionais ao resto do corpo porque seriam gordos por inteiro. Sem discriminação! Não existiria o pesadelo de ser barrigudo, sem bunda e com pernas finas.

Teríamos os Vigilantes dos Magros pra impedir o maluco que pensasse em emagrecer. A palavra “regime” seria abolida dos dicionários. Os desfiles seriam disputadíssimos. Ganharia quem tivesse a pança mais bonita e redondinha, a bunda com mais celulite, as coxas mais roliças.

Nos outdoors, propagandas políticas: “Há milhões de pessoas no mundo passando fome. Nenhuma é da Gordolândia”.

Delivery 24 horas. Torta de limão, pizza, merengue, picanha, trufa. Os cigarrinhos de chocolate voltariam a circular. A cidade seria um imenso Bixiga com cantinas a cada esquina. Ninguém comentaria a quantidade de vezes que você repetiu e nem falaria que é falta de educação. Comida por quilo não existiria, gordo que é gordo não come porcaria, nem pão com margarina. Engordar com comidas de baixa qualidade seria proibido. Só o paraíso seria permitido...lasanha, nhoque, ravioli, espaguete ao molho branco, à romanesca, à putanesca, ao molho concassé. Churrascarias serviriam apenas carnes nobres. As mães dariam leite condensado na mamadeira para os bebês. Tudo que é verde seria abolido. Propagandas na tv exibiriam o slogan “Alface nunca mais. Verde, só o manjericão!”.

Existiria o PGG - Povo Gordo Gigante -, um grupo de obesos revoltados com sua condição, que seria responsável por espalhar mentiras sobre a boa vida dos que fazem dieta e dos inúmeros benefícios à saúde. O PGG também traficaria drogas para emagrecer. Além disso, espalharia o terror exterminando todo o sorvete da cidade, além de colar cartazes audaciosos nos postes com ameaça de colocar veneno nas massas de pizzas. A polícia só conseguiria achar o mandante dos ataques à cidade, após encontrar provas nos fundos de uma casa: uma plantação de verduras, frutas e legumes. O Sr. Flácido Domingos, dono da horta, abatido pelo regime e com alguns quilos perdidos, seria preso sem direito à fiança. Além disso, o juiz exigiria que fosse imputado a ele, a pena de comer durante 20 anos apenas lasanha à bolonhesa.

O prefeito, Gordo da Silva, alertaria os gordolenses do perigo da dieta com base nos notícias dos incidentes. Pra piorar, na entrada da cidade, gordinhos de regime de toda parte morreriam eletrocutados tentando pular os muros, totalmente enlouquecidos pelo cheiro dos pães caseiros recém saídos do forno. Os esfomeados, magros, mas não por opção, também morreriam na tentativa de entrar na cidade. Diante de tantos magros mortos, uma famosa escritora, militante do POMC - Partido dos Obesos Mórbidos Contentes -, confirmaria sua tese e lançaria um livro de auto-ajuda “Ser magro enlouquece, engorde e seja feliz!”.

E todos morreriam antes do 30. Gordos e felizes.