O BILHETE DA GELADEIRA
Andrea Natali
 
 

Patrick deixou um bilhetinho na porta da geladeira: "Amor, volto logo. Vou comprar coisas para o nosso lanchinho. Beijos". Assim que vi o bilhete, aproveitei e fui tomar aquele banho e preparar o nosso quarto para uma noite especial.

Fazia algum tempo que esperava por isso, mas Patrick sempre chegava do trabalho primeiro que eu. Aquele dia seria perfeito. Afinal, eu já tinha algumas velas guardadas, perfume especial e aí era só preparar a mesa.

Deixei tudo arrumado na sala e no quarto e fui tomar meu longo banho. Sabonetes especiais, óleos aromáticos, tudo para que eu nós pudéssemos relaxar e ter uma noite super diferente na semana. Separei uma camisola super sexy, um hobby de seda maravilhoso, liguei o som e fui para o banho.

Estava uma verdadeira danceteria o meu banheiro. Cantei, dancei, brinquei, molhei todo o banheiro e me diverti sozinha enquanto ele não chegava. Saí do banho e me vesti para ficar esperar meu amor.

Senti no sofá e me distraí com a televisão. O problema é que não vi a hora passar. Já fazia mais de duas horas que tinha acabado meu banho e até então Patrick não tinha voltado e muito menos dado notícia. A essas alturas, eu já xingava e morria de fome - afinal o esperei para jantar!

Mais meia hora e nem sinal! Como um supermercado podia demorar tanto assim? Ele não tinha ido às compras do mês, eram só algumas coisinhas para um lanchinho, no bilhete ele disse que voltaria logo!

Tocou o telefone e saí correndo para atender. Era uma amiga minha do trabalho querendo fazer fofoca do chefe. Ai que ódio! Dispensei rapidinho. Estava super nervosa, passei a mão no telefone e liguei para o celular dele.

"Amor, onde você está? Estou a horas lhe esperando para comer? Você foi fabricar o lanche no supermercado?"

"Calma, amor, por que tanta agressividade?"

"Você deixa um bilhete aqui dizendo que volta logo e fica três horas fora de casa? Preparei uma noite toda especial para você e onde você foi parar? Sumiu? Não fico calma porcaria nenhuma!!!"

"Amor, eu liguei em casa e você não atendeu! Liguei no seu celular e você também não atendeu."

"Você ligou?"

Na mesma hora saí correndo em direção à minha bolsa para pegar o celular.

"Liguei, amorzinho. Liguei várias vezes, mas você não atendeu, achei que estava na rua, ou foi ao salão e esqueceu de me avisar."

"Puxa, amor, será que você ligou quando eu estava no banho?"

"Essa sua mania de tomar banho com o som ligado dá nisso! Não escuta nada! Estava saindo do mercado, quando encontrei um amigo de colégio. Ele me convidou para um choppinho. Liguei em casa, liguei no seu celular e você não me atendeu, achei que estava na rua e nem tinha visto o meu bilhete!"

Meu mundo caiu naquela hora. Esqueci de tudo, deixei o som bem alto e nem pensei que ele poderia ter ligado. Fiquei frustrada à toa. Lembrei também que tinha esquecido o celular no silencioso, porque tive uma reunião naquela tarde e esqueci de alterar o som, quando voltei para casa.

"Mas fique tranqüila, amor, já estou indo para casa. Não fica brava, não, ta? Beijos."

Desliguei completamente desorientada. Minha surpresa foi para o espaço e minha noite romântica também. Então não me restou alternativa a não ser esquentar a janta do dia anterior. Maldito bilhete.