QUASE COINCIDÊNCIA
Hugo Carvalho
 
 

Não faz muito tempo. Coisa de uns meses atrás, na época do estio, quando me encontrava à varanda da casa da fazenda. Descansava e curtia meu charuto na maior tranqüilidade. Há, para mim, poucos lugares melhores do que aquele meu recanto rural, para fumar-se um puro. Nada de automóveis; nada de poluição; nada de barulhos urbanos. Levara comigo a família para curtirmos uns dias das férias do verão.

A atividade de lá é puramente agrícola. Cacau. Não há bois, nem cavalos. Galinhas, umas quantas para assegurarem os ovos nossos de cada dia. Ah! ia me esquecendo. Temos sim, algumas mulas, contabilmente denominadas semoventes, que servem para o serviço de transporte do cacau proveniente das roças. Tais mulas são a diversão maior dos meninos. Quando equipadas com panacuns (cestos laterais reforçados) neles os meninos entram - pesos divididos, um ou dois na sela, mais um em cada panacum - e vão passear no meio cacaual, guiados por um dos empregados. É divertidíssimo. Com os sacolejos da animália, riem a mais não poder.

Enquanto fumava meu charuto - os meninos lá pelas bandas da cozinha - eis que o caseiro, sabedor do gosto da turma, aparece ao longe, trazendo uma das mulas devidamente "equipada". Nem um minuto se passou para que todos, dando-se conta da aproximação da sempre esperada diversão, aparecessem correndo e esbaforidos. Um deles grita.

Papai! Olha a mula lá!

Comecei a rir gostosamente. Os meninos, ao não entenderem a razão de meu riso, indagaram-me a respeito. Afinal a exclamação nada tinha que pudesse fazer alguém rir.

Foi nada não, expliquei-lhes. Vão se divertir, completei.

E, depois de "embarcarem" na mula, continuei sozinho. Rindo na companhia gostosa do meu charuto. Aquela mula lá, me evocava a quase coincidência com um certo slogan.

Mula-lá!