ANIMAL SIMBÓLICO
Oicram Somar
 
 

Sempre elegante, uma verdadeira dama, ele pensava, enquanto diante de suas provocações ela se aprumava e diante de seus elogios, ele se encolhia, e sabia que com ela toda provocação seria inutil, ele jamais descobriria os segredos por trás daquela mulher que não se revelava, talvez no fundo quisesse vislumbrar o mistério, mas o mistério é uma revelação pessoal e ele sem saber o que responder continuava o jogo que aprendera a tão pouco tempo: escrevia.

Sua poesia tosca, seu português tacanho, seu estilo imaturo e sua palavras repetitivas, mais que ocultar explicitavam a sua obscura personalidade fugidia que se embrenhava por entre os livros, a música, a paisagem que o envolvia e sua ânsia de querer saber das coisas, enquanto isso desfiava seu humor ácido que não fazia sorrir, sua prosa luxuosa tirada do lixo de suas entrelinhas, e de sua comida artificial, pois que não era sua, apenas comprava com seus parcos recursos a matéria prima e a mão de obra que colocava à mesa.

Não é a toa que seus escritos só podiam sentir o Homem como um animal, não desses que são levados pelo extinto, mas pior, pela sua razão. Razão sempre irracional, que insistia em racionalizar até seus menores sentimentos, um animal que jamais descobriria o que é ser uma borboleta, um lagarto, um morcego. E perdido em suas provocações se deparou com ele mesmo, diante de si e do mundo, um vasto sistema simbólico os separavam, teria que mudar os signos, já se fazia hora, para que pudesse esclarecer o que mais lhe impressionava, o Ser Pensante. Mas como mudar os símbolos sem se transformar? Mas a mudança não fazia com que esses símbolos como um caleidoscópio a toda hora se transformasse em outras coisas que não ele mesmo? Foi para o samba, e lá se perdeu a noite inteira, deixando que a madrugada lhe trouxesse respostas...