PAIXÃO VORAZ
Afonso José Santana
 
 

Seus dedos corriam o teclado do computador. Gostava de entrar na net. Fizera amizades com muitas pessoas ali. Algumas amizades eram só para zoar, outras para um papo franco. O papo franco não era, no modo correto, racional. Era um papo no mínimo intragável.

- olá como vai o meu amigo?

- tudo bem.

- podemos nos encontrar então?

- é só marcar o local

- ok, o local é...

Era um papo entre dois homens. Conheceram-se na net. Trocaram bastante idéias, até que chegaram num consenso comum. O gosto pelo canibalismo. Marcaram então o primeiro encontro. Foi na casa de Edgard. À noite, lá estavam os dois, tomando um drinque, conversando coisas comuns, até que entraram no papo de canibalismo. Eram adeptos desse ritual há algum tempo. Quem comeria quem, era a questão. Tiraram a sorte. Quem fosse ser comido deveria primeiro ser anestesiado. Pra não sentir dor. A imensa dor da morte. Edgard foi o vitorioso da noite. Pegou a garrafa de formol, embebedou num pano e colocou-o no nariz do amigo. Tão logo desmaiou, Edgard o beijou, fez amor com ele e começou a retalhá-lo. As vísceras, o esqueleto e o tronco enterrou-os no fundo do quintal. O resto guardou no freezer para de pouco em pouco apreciar a carne do amigo e amante.