MILDRED ADMINISTRA A BROXADA
Alberto Carmo
 
 

Matador das minhas touradas,

Calma, benzinho! Isso nunca aconteceu antes, né! Fica tranqüilo, meu Cássius Clay, eu sempre acreditei em você nas outras vezes, não foi? Então, depois a gente dá aquelas goleadas de fazer Maracanã ir abaixo. A gente não pode ganhar sempre, meu Gasparov. Eu também tenho lá minhas enxaquecas e você sempre foi tão compreensivo, não é mesmo, meu Bruce Lee?

Também, você comeu umas setecentas e cincoenta gramas de tutu à mineira, fora aquele monte de torresmos que a sua mãe mandou! Tá pensando que é o quê, um saco sem fundo? Você precisa se controlar mais quando a sua mãe tem esses ataques de protetora dos fracos, dos oprimidos e avança contra toda e qualquer nora que invadiu a creche dela. Ela pelo menos podia fazer umas porções menos generosas, você não acha? Não precisava ficar fazendo essas paneladas tamanho GG! Você tem o olho maior que a barriga, meu ciclópede!

Deus sabe o que faz. Se você viesse com tudo ia acabar tendo uma congestão, e aí sim é que a vaca ia pro brejo, meu Sputinik! Vem aqui com tua Penélope charmosa e vamos ficar assim só de mão dada, abraçadinhos; eu gosto tanto de ficar assim também. Me conta de novo aquela vez que você colocou uma barata na bolsa da bichinha do escritório. Quase te mandaram embora, lembra amore? Fosse hoje em dia, iam tirar teu escalpo em praça pública, com direito a transmissão em tempo real e passeata gay de protesto na frente do banco. Que coisa, né meu Búfalo Bill! Como você sempre diz: - Aonde chegamos!

E pára de pensar nisso agora! Lembra daquela vez no hotel fazenda, quando você estava cheio de idéias e na hora negou fogo? Era ansiedade, meu pudim de caramelo! Depois você desenformou e foi um Deus nos acuda, esqueceu? O gerente veio bater na porta e pediu pra gente acabar com aquela pouca-vergonha. Foi só risada o resto da noite e de manhã mandamos brasa de novo sem dizer um piu. Você ficava tapando minha boca na hora agá. E o pessoal passou o dia inteiro olhando pra gente com aquela cara de "também quero", se fingindo de puritanos. Tá vendo, isso passa já, quando casar sara!

Por falar nisso, sabe o que eu mais gostei na nossa lua-de-mel? Foi você ficar acordado de madrugada fazendo aquela música linda pra mim e depois veio cantar na cama com café colonial. Eu até chorei, lembra? Foi a coisa mais bonita que alguém tinha feito pra mim. Eu adoro esse teu jeito de machão com coração mais mole que pudim de leite condensado, e que não há meio de eu achar o ponto. Eu ainda acerto a mão, você vai ver só!

Agora, meu Ricardo Coração de Leão, vamos descansar, porque os meus Orixás estão sinalizando que vai ter samba no terreiro assim que a gente acordar amanhã, e eu não quero perder nenhuma das nossas pegadinhas!

Durme bem, gladiador do meu Coliseu!

 
 
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