VIAGEM
Elaine Brunialti
 
 

Com que direito ronda como um fantasma o casarão do meu corpo abandonado?
Acendendo desejos já muitos esquecidos, sem medo ou pudor em tocar-me?
Parece não perceber o frio presente desde as entranhas em meu ser.
Talvez nem perceba, tamanho o teu calor.
Sequer sonha o mal (ou bem?) que me faz, tornando-me viva novamente.
Eu, tão acostumada com a solidão, com a cama fria, com o silêncio da noite.
Ainda assim te pedi - não. Então porque teimou no sim!?
Porque me deixou viajar na paixão mortal que são os teus olhos brilhantes.
Sabendo que não haveria amanhã. Que nada restaria dessa paixão fulminante.
A não ser o martírio diário de te ver, sem poder te tocar, sem poder te beijar.
Deixando tudo preso no passado de um dia, na verdade dos poucos minutos.
Um beijo, outro e outro... E ao abrir os olhos, o amargo retorno à realidade,
Vendo você se afastando e sabendo que nunca mais retornaria.
Agora, nada mais me resta a não ser viver da lembrança, onde você
como um cometa errante, ousou iluminar a solidão da minha vida.