MISÉRIAS
Zeca São Bernardo
 
 

Da noite fria sem estrelas, tomo o céu como cobertor
A cidade me empresta a guia da sarjeta para travesseiro.
Feridas que coçam pelo corpo, mais que a urtiga.
Mesmo o mau cheiro, não me impede de sonhar.

Sonhar com um lindo dia de Sol, onde
Tomo as ruas como minhas.
Onde faço das praças, meu jardim.
De lá posso ver, as pessoas tão preocupadas.

Nem percebem a beleza das poucas flores, espalhadas pelo meu jardim.
Talvez amanhã,
Junto com um copo d’água, venha um pouco de dignidade.
Com a comida distribuída,
Pela solidariedade, venha um pouco de calor humano ...
Como sobremesa.

Tão útil, e precioso,
Nessas noites tão frias.
Talvez, alguém pare e me de um bom dia...
Bom dia, e se vá, sem olhar para traz,
Como sempre, livre e liberto,
Das preocupações e percalços,
Do medo de vir me fazer companhia, aqui.
Em definitivo.