LIÇÃO DE AMOR
Daniela Fernanda
 
 

Tudo começa na cerimônia do matrimônio. É o primeiro passo para a realização dos sonhos, mais especialmente daquele que parece ser o dom natural da mulher; a maternidade.

Por vezes, o casal tem pressa e quando chegam da lua de mel, ela já está em estado de graça, ou seja, grávida. Os parentes ficam radiantes e o futuro membro da família passa a ser o assunto dos próximos encontros ao longo dos nove meses, os quais separa a notícia da vinda a sua chegada de fato.

Todos, mas principalmente os futuros pais, fazem planos para o indivíduo que se desenvolve. Nutrem expectativas maravilhosas, se encorajam para a nova condição e repensam de forma profunda os seus principais valores. Desejam, desde já, dar tudo o que houver de melhor no mundo para este ser. Almejam que valores éticos e morais sejam o eixo central na vida dele. Fazem planos para que o pequeno cresça respeitando a sociedade como um todo, mas que principalmente dediquem um amor especial aos diferentes. Que sejam complacentes com os menos favorecidos e saibam acolher com dignidade aqueles que tiverem menos oportunidades na vida.

Entretanto, é quando os filhos crescem um pouco, e só então, que os pais, aqueles que foram tão dedicados, descobrem a duras penas, que foram na realidade idealistas e sonhadores. Enquanto eles tiravam os espinhos do caminho para o seu filho passar, eles impediam que a criança precisasse se abaixar para remove-los, ou até mesmo que se ferisse e sentisse assim na própria carne a dor de uma ferida e quanto tempo ela leva para ser curada. Esses pais, os quais foram protetores em demasia, e por um único motivo, o amor, não permitiram que o rebento construísse seus próprios valores a partir de perdas e ganhos, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas... E é só agora que, com grande amargura, constatam que fizeram tudo errado. Dão-se conta que deram o peixe e não ensinaram a pescar, que despejaram valores importantes os quais não foram assimilados e que são muito menos importantes na vida dele do que um dia esperaram ser. Percebem que ele cresceu um pouquinho e já pensa que é o dono do mundo. Decide simplesmente que os pais são velhos, retrógrados e ridículos. Que os tempos agora são outros e que altruísmo já era. Acredita que o bem mais importante da vida é o papel moeda e que quanto mais ele tiver, mais importante e respeitado será. Ainda que não esteja em idade de ganhar o seu próprio dinheiro, exibe com orgulho para os amigos e conhecidos, tudo aquilo que os pais conquistaram com muito esforço, como se cada tênis de marca, o carro do pai, o telefone celular último modelo que carrega consigo, a casa com piscina e todo o resto fosse dele, e principalmente, como se tivesse sido conquistado por ele.

Aos pobres pais então, só resta abrir os olhos e enxergar de uma vez por todas aquilo que nunca quiseram ver. Ver que proteção demais impede o filho de aprender a cair e a se levantar, o impede de respeitar primeiro para ser respeitado depois e principalmente o impede de reconhecer o amor daqueles que por excesso de amor lhe trouxeram a um mundo maravilhoso.

É uma pena que só agora, tão tardiamente esses pais possam perceber o quanto esse filho vai sofrer. Porque tudo aquilo que eles, ainda que tenham tentado com afinco, não conseguiram ensinar, a vida, até o fim dos tempos, se encarregará de cobrar.

 
 
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