OS PARANORMAIS: VOCÊ ESTÁ PRONTA?
Bruno Pinheiro de Lacerda
 
 

Dois rios que fluem e se encontram, encontram-se, não por mero acaso, mas pela vontade dos dois rios. Até quando, porém, esses dois rios vão desejar fluírem juntos? Até quando eles irão querer ser um só? Quando é que os interesses individuais de cada rio não superarão os interesses coletivos? A amizade é a confluência de dois rios de energia. Sendo assim, como podemos saber quem são nossos verdadeiros amigos e até quando eles continuarão sendo? Perceber o curso dos rios de energia é _ ou, pelo menos, deveria ser _ uma qualidade daqueles chamados de: OS PARANORMAIS!

Leandro e Amanda passaram para a próxima fase do torneio. Amanda venceu seu oponente e Leandro passou porque seu adversário não compareceu. O adversário de Leandro era David _ irmão de Amanda. Ela ficou, pois, muitíssima frustrada com a ausência do irmão, já que esperava encontrá-lo naquele dia. Onde estaria David? Por que ele não foi à luta? Amanda não conseguia entender. Agora era Amanda contra Daniela: as duas melhores amigas lutariam. O dia havia chegado. As duas já estavam prontas? Quem vencerá essa luta incrível? Haverá mesmo luta?

O narrador narrava:

_ É isso aí, galera! Estamos aqui para assistir a uma luta que, talvez, será a mais emocionante de todas! É Amanda contra Daniela! As duas eram _ ou são ainda, não sei _ duas grandes amigas. E agora vão lutar. O que você espera da luta, Comentarista?

_ Eu espero uma boa luta... Isso é... Se houver luta, né?

_ É, é isso aí! E olha lá! As lutadoras estão entrando na arena! A cara das duas não está boa... Parece que vai mesmo haver luta. E no lado direito da arena, entrando agora... Daniela! O público não esboça reação... Ela não é muito popular, por causa do seu jeito de ser, mas acho que também não é impopular, porque não enxerga. O público deveria estar vaiando agora, mas acho que ele está amenizando... Ah... E Daniela entra na arena, altiva, com a cara fechada! Ela sempre entra assim na arena! Foi assim também na luta passada. Eu estou até com medo... Nossa! E no lado esquerdo da arena, entrando agora... Amanda! Ela sempre entra com uma carinha de cínica... O público vaia... O que será que vieram fazer aqui aqueles que estão na arquibancada? Ah, já sei! Vieram ver quem será o adversário de Caio! Caio é bem popular... E por falar nisso, ele está ali, na Tribuna de Honra! Mas... Parece que o coração dele já tem dona... Vejam lá... Ao lado direito de Caio, a filha do hóspede dos lutadores: Clara! E Amanda entra na arena. Ah, vai ser uma luta daquelas! E aí, Comentarista?

_ Olha... Olhando para a cara das duas... Nem parece que são amigas. Acho que vai ser uma boa luta.

_ É... Parece que sim. E o público vai se emocionar e se surpreender!

Daniela não sentia tristeza. Ela queria lutar e vencer: ela venceria! Amanda queria vencer, para que seu irmão se orgulhasse dela. Ah... E também, Daniela não podia ir adiante no torneio, porque... Ela nem enxergava! Certamente ganhou a luta passada e o cristal por sorte! Ah, Daniela não era adversária para ela, não mesmo! Amanda pensou: _ “Eu vou derrotar essa garotinha inútil!”. Daniela só pensava uma coisa: _ “Vou ganhar, preciso ganhar essa luta, para cumprir a promessa que fiz! Eu não vou decepcioná-lo!” Ah, Daniela se lembrava... Ela se lembrava... Ah, ela se lembrava de quando era pequena, da promessa que fez a... Ah, ela se lembrava... Ela se lembrava e, por isso, tinha que vencer! Ah, agora Daniela se lembrou do que Caio havia gritado há pouco... Por que ele disse aquilo? Daniela se lembrou: _ “Se você tem um sonho, vai vencer esta batalha e lutar contra mim!”. Ah, por que ele disse aquilo? Será que ele lutaria a sério com Leandro? Ah, certamente aquele garoto tem um sonho, um sonho que vale a pena! Se não tivesse, não lutaria contra seu melhor amigo! Ou lutaria? Daniela não lutaria... Não lutaria, se não fosse a promessa que fez. Ah, aquela promessa, o que Caio havia dito, tudo agora batia e rebatia na cabeça de Daniela, pensamentos mil passavam por sua mente. Ah, mas agora a luta começaria e, sendo assim, chega de pensar! Ela tinha de se concentrar e vencer aquela luta, pela promessa que fez a... Daniela se concentrou. A luta ia começar.

Caio estava na Tribuna de Honra. Leandro estava à sua esquerda e Clara à sua direita. Ele queria que Daniela vencesse, torcia por ela. Não porque gostasse... Ou... Ah, não! Caio afastou aquele pensamento da sua cabeça. Ele queria enfrentar Daniela. Caio estava atento a tudo. Daniela venceria? Tinha que vencer!

A luta ia começar. O juiz perguntou:

_ Vocês estão prontas?

_ Sim: vamos lá! _ Daniela respondeu.

_ Há muito tempo eu já estou pronta pra ganhar! _ Amanda disse.

_ Então... Prepara... Começar! _ O juiz deu a ordem.

O narrador contou o fato:

_ E o juiz autoriza: começa a luta, minha gente!

Amanda pensou: _ “É agora: vou atacar e vencer!” Daniela pensou: _ “Vamos ver o que ela vai fazer; ela parece bem disposta a lutar. Sinto que, se for possível, ela me mata hoje aqui. Ah... Vamos ver. Quer lutar? Então, venha, Amanda!” A luta começou.

Amanda lançou um forte ataque, do qual Daniela desviou-se. Amanda atacou novamente, mas sem sucesso. Amanda fez um novo ataque, mas Daniela desviou-se novamente. Daniela disse:

_ Você já deveria saber que minha velocidade é muito boa, cara Amanda... Você vai ter que ser muito mais rápida pra me atingir. Ah, já sei! Você não está lutando a sério, não é?

_ Cala a boca e luta! _ Amanda respondeu com rispidez.

Amanda lançou uma sucessão de ataques, em todas as direções. Eram ataques incríveis, eram incríveis bolas de energia, em todas, todas as direções! Bolas grandes e densas! Daniela não tinha escapatória. Ah, o que faria ela? Daniela decidiu encarar: ela esticou os dois braços e girou rapidamente; usando os braços como bastão, Daniela rebateu todos os ataques e os lançou fora da arena. A arena era aberta, não tinha cerca. Dessa forma, qualquer descuido e o lutador podia cair fora da arena; era uma altura grande e seria uma queda mortal. As bolas de energia explodiram no chão, criando uma fenda no chão. Era uma fenda que se localizava abaixo da arena, mas atrás dela, atrás da beirada localizada atrás de Daniela. Amanda surpreendeu-se com a inteligência da “amiga”. Daniela disse:

_ Vai ter que fazer melhor que isso pra ganhar de mim, Amanda.

Amanda disse:

_ Com muito prazer...

Amanda lançou uma bola de energia incrível! A bola circulava a arena e Daniela não conseguia prever aonde ela iria. Então, Daniela criou um escudo em volta de todo o seu corpo. A bola de energia bateu no escudo e se desmanchou. Daniela disse e, a partir daí, um diálogo se estabeleceu:

_ Eu não vou perder esta luta, Amanda, eu não vou perder.

_ Daniela... Desista da luta.

_ O quê?

_ Não quero matar você. Pela nossa amizade, acho que você deveria desistir.

_ Pela amizade... E... Qual?

_ Suponho que somos amigas, não?

_ Hoje não, Amanda. Hoje você é minha adversária, não minha amiga. Acha que vou desistir da luta por alguém que não acredita em mim e que me mataria se tivesse oportunidade?

_ O quê?

_ Sei muito bem que você está disposta até mesmo a me matar nesta batalha e sei também que você não me acha capaz de ganhar de você.

_ Ora... Deixa de besteiras: apenas desista da luta!

_ Amanda: você está disposta a me matar neste combate. E eu estou disposta a lutar até a morte. Parece que você também, não é mesmo? Mas... Eu estou pronta pra morrer, se necessário. E você? Você está pronta?

Amanda não respondeu. Aquela pergunta era muito forte... “Você está pronta?”. Amanda não sabia. Ah, ela não queria morrer! Será que Daniela estava mesmo pronta? Mas... E seu sonho? Ah, não! Isso era mentira! Amanda não estava pronta. Daniela insistiu:

_ E então? Você está pronta?

_ Você também não está, sei disso.

_ Engana-se! Se eu não for capaz de ganhar de você, não mereço a vida; se eu não cumprir a promessa que fiz, não mereço viver, nem realizar meu sonho. Então, eu estou pronta. Mas você não está. Então, quem deve desistir não sou eu, mas você.

_ Acha que vou perder pra você?

_ Não acho: tenho certeza.

_ É o que vamos ver, maldita!

_ Se quer lutar, então... Venha!

O Narrador narrava:

_ Incrível! Amanda lançou uma sucessão incrível de ataques contra Daniela, mas, Daniela desviou-se! Amanda lançou um montão de bolas de energia... Bolas grandes e pesadas, que foram jogadas em todas as direções! Incrível! O que fará Daniela agora? Ah, Deus! Não pode ser! Daniela girou usando os braços como bastão... Ela girou rápido! Incrível! Ela rebateu todas as bolas e elas caíram todas juntas no mesmo lugar! Ah, meu Deus! Abriu um buraco no chão! Se Daniela for jogada fora da arena, terá problemas, porque cairá justamente no buraco. O que você está achando da luta, hem, Comentarista?

_ Está uma luta ótima! Eu acho que Daniela está estudando a adversária, Narrador, este é o estilo dela.

_ É isso aí!

Caio sabia que o comentarista estava certo. Sua rival estava mesmo estudando a adversária. Certamente Daniela atacaria pra vencer e Caio sabia que ela venceria. Mas... Por que Caio estava com aquela sensação? Aquela sensação de perigo, de... Ah, não era boa... Por quê? Por quê?

A luta continuou. Amanda lançou uma bola de energia incrível, mas sem sucesso. Em seguida, Amanda lançou seu ataque especial:

_ [Machado do destino!]

Amanda concentrou uma quantia enorme de energia e a materializou em um enorme machado afiado. O machado foi lançado contra a cabeça de Daniela. O machado rompeu o escudo e acertou Daniela em cheio. Aquele ataque foi fantástico! Ágio, preciso e consistente. Entretanto, a energia vital de Daniela não se alterou. Amanda não acreditou. Como era possível? O narrador contou o fato:

_ Nossa! Amanda está concentrando uma enorme quantidade de energia! Eu to até com medo. Ah, o que ela vai fazer? Nossa! Por Deus! Ela materializou aquela enorme quantia de energia em um enorme machado! É um machado muito afiado! Nossa! Amanda lançou aquele machado contra Daniela! Daniela vai morrer! Ela não vai escapar! E olhem só! Daniela foi atingida em cheio! Fenomenal! O quê? Incrível! Incrível! A energia vital de Daniela não se alterou! Essa garota é um fenômeno: ela é demais!

Amanda disse:

_ Como? Como isso é possível?

Daniela respondeu ironicamente:

_ Achou que um machadinho como esse iria romper minha capa em volta do meu corpo? Grande engano! Bem... Agora é a minha vez: prepare-se!

Daniela juntou uma quantidade relativamente pequena de energia. Em seguida, ela tomou impulso e lançou o ataque contra Amanda. Aquela energia tinha formato de ponta, era um ataque cortante. O ataque penetrou no corpo de Amanda e o atravessou. Em seguida, como um bumerangue, o ataque fez o caminho inverso, atravessando novamente o corpo de Amanda. Depois aquela quantia de energia cresceu e foi novamente na direção de Amanda, atingindo-a em cheio. Amanda foi ao chão. A energia vital dela ficou em 20%. Daniela era mesmo imbatível! O narrador narrou:

_ Vejam. Agora Daniela vai atacar. Ah, ela juntou só um pouquinho de energia... O ataque vai ser ridículo! E o ataque foi lançado contra Amanda _ Amanda deve escapar facilmente. Ah, não! Como é possível? O ataque atravessou o corpo de Amanda! E... Vejam! Atravessou novamente! Agora a bola de energia cresceu! Nossa! Amanda foi atingida de novo! Nossa! A energia vital dela ficou em míseros vinte por cento. Incrível! E aí, comentarista?

_ Amanda já perdeu esta luta: Daniela é imbatível! Seu próximo adversário vai ter problemas.

_ É... Vai sim.

Daniela disse a Amanda:

_ Chega! É melhor você desistir! Meu próximo ataque vai humilhar você e eu não quero fazer isso.

_ Eu nunca vou desistir! Vou acabar com você!

_ Bem... Eu te entendo: você quer lutar até o fim, não é mesmo? Sinto que você não está pronta pra morrer, então... Vou poupar sua vida, mas vou acabar com esta luta.

Amanda, com muita dificuldade, levantou-se. Ela preparou um ataque, mas, antes que tivesse tempo de lançá-lo, Daniela lançou uma bola de energia congelante em Amanda. A energia vital de Amanda foi a 5% e ela foi nocauteada. O juiz contou até dez e depois declarou:

_ Fim de combate: vitória de Daniela!

Daniela pensou: _ “Acabou: eu venci”. Amanda pensou: _ “Isso não vai ficar assim!” Tudo estava calmo e Daniela estava muito feliz; porém... De repente, uma energia misteriosa jogou Daniela para trás. Daniela estava caindo da arena. Ela cairia naquele buraco, naquele buraco fundo! Seria mortal! Ah, Daniela caía. Ela morreria? Não, não podia! Daniela conseguiu segurar-se na beiradinha do chão da arena. Ela estava pendurada. Aquela energia a empurrava para baixo e ela não conseguiria segurar por muito tempo. O que ela faria? Pediria por socorro? Daniela ficou sem ação.

Caio soube do que acontecia. Então, era por isso aquela sensação... Aquele pressentimento ruim. Caio não pensou em nada. Em um pulo, Caio estava ali, perto de Daniela. Ele estava próximo ao buraco que tinha no chão. A arena, porém, era alta demais! Como ele... Ah, ele se lembrava agora... De um dia... Do treinamento com Melissa. Melissa disse: _ “Você pode voar. Basta que você jogue energia para baixo. A Lei da Ação e Reação... Você será jogado para cima. Vamos!” E ele fez o que sua mestra mandou e conseguiu voar. Agora ele precisava voar novamente. Caio jogou energia para baixo e conseguiu voar até onde Daniela estava. Obviamente, para permanecer no ar, ele continuava jogando a energia para baixo, através de seus pés. Chegando onde Daniela estava, Caio disse:

_ Dê-me a mão! ... Ah, não... Espera! Primeiro tenho que destruir a energia que está empurrando você para baixo.

Caio sabia que a energia vinha de Amanda. Ele disse:

_ Pare com isso, Amanda! Você e Daniela não são amigas?

Amanda não parava. Caio, então, falou:

_ Bem, você não me deixa outra opção, a não ser...

Caio lançou uma grande quantia de energia em Amanda. Em seguida, ele lançou uma outra bola de energia, a qual, ao chegar na frente dos olhos de Amanda, materializou-se em uma venda. Amanda enxergava e certamente usava os olhos. Não deu outra: a energia que empurrava Daniela para baixo cessou. A energia vital de Amanda ficou em 2%. Caio disse a Daniela:

_ Agora sim: dê-me as mãos.

Daniela não devia confiar em Caio, mas acreditou. Ela não tinha outra opção... Tinha? Caio pegou Daniela no colo e, vagarosamente, aterrissou, em segurança. Em seguida, ele perguntou:

_ Você está bem?

Daniela disse e, a partir daí, um diálogo se estabeleceu:

_ Sim, estou.

_ Muito bom!

_ Caio... Por que fez isso? Por que me salvou?

_ Ah... _ Caio não estava muito certo. Por que ele tinha salvado sua maior rival? Ele não sabia. Sabia? Caio limitou-se a dizer, aquilo que seu coração talvez negasse, mas que sua mente o impelia a dizer: _ Quero lutar contra você!

Daniela disse:

_ Bem... De qualquer maneira, muito obrigada.

_ De nada.

O torneio está incrível! Muitas revelações estão guardadas para as próximas lutas. Caio terá coragem de lutar contra Leandro? E depois? Lutará contra Daniela? Vencerá? Por que Caio salvou Daniela? Por que ela confiou nele? Por que Amanda queria matar sua melhor amiga? Não teria aceitado a derrota? Como eu já disse antes, são muitas perguntas, e poucas respostas...

(continua)