O MUNDO NOVO
Rachel Kizirian
 
 

Admiro as pessoas que conseguem continuar dormindo quando alguém acende a luz. Impressionante aqueles que nem se movem, enquanto alguém vem e aperta o interruptor. O ambiente inteiro muda, tudo o que estava quieto agora é escancarado pela invasão de uma luz que não foi pedida, mas que com ela enxergamos tudo que estava ao nosso redor. Porque os sonhos são, no quarto apagado, quando nada está tão às claras, quando a infiltração na parede não é vista, nem o quadro torto pendurado na parede.

Tudo fica mais fácil quando a escuridão permanece, mesmo tendo o escuro como seu inimigo, andar por caminhos tortuosos escondidos, onde não sabemos o que está debaixo dos nossos pés.

Algumas pessoas são assim, preferem correr riscos do que enxergar o que está ali, quando o interruptor é apertado. Outras preferem olhar tudo claramente e ver como cuidar da infiltração, organizar gavetas, arrumar o quadro torto. É difícil levantar da osmose dos dias, enfrentar a realidade cruel do quarto, aquele que há bem pouco tempo atrás, não trazia mudanças, apenas desconforto. Então você se levanta, arruma a colcha e vê o quanto ela está suja, olha ao redor e vê os respingos da tinta ainda lá, marcadas no chão, na janela a poeira toma conta, porque a vida ficou lá fora. É hora de abrir os sonhos, correr amores, extinguir dores. É hora de limpar a casa e o coração. Arrumar tudo, jogar vestes velhas fora, junto com a dor. Porque a luz chegou e tudo está mais claro agora.