OS BÁRBAROS
Bárbara Helena
 
 

Quando o primeiro mensageiro se aproximou da cidade, vinha nervoso, o cavalo suado e sua voz aflita deu o alarme:

Os bárbaros estão chegando!

A população da vila aos pés da montanha se apavorou.

Toda a tranqüilidade do sol poente, as flores nos jardins, os pássaros que cantavam, tudo pareceu, de repente, se tornar ameaçador. Correram para suas casas, colocaram trancas nas portas, traves nas janelas, abandonaram ruas e praças e se esconderam no escuro onde nem a luz poderia encontrá-los.

E o segundo mensageiro chegou, esfarrapado. Seu cavalo mancava e a voz soava ainda mais terrível:

Os bárbaros estão mais perto!

Homens e mulheres deixaram suas casas correndo e se atiraram aos ferreiros e armeiros, fabricando punhais, revolveres, facas, lanças, espingardas e até canhões na esperança de se defender. Montaram trincheiras em cada porta, visores em cada janela, seteiras nos telhados.

Mas o terceiro mensageiro chegou. Ferido, o cavalo trôpego caiu ao cruzar a fronteira da cidade. Com voz rouca, anunciou:

Eles estão perto, muito perto. Os bárbaros!

A população enlouquecida já não sabia o que fazer. Prefeito e deputados se reuniram no parlamento, o povo debatia nas ruas. E ninguém se entendia. Cada um tinha a solução melhor para o problema, irritando o vizinho que se achava dono da razão. Permaneciam horas sob o sol quente e as estrelas, discutindo, ameaçando, puxando armas, atacando amigos.

E o quarto mensageiro chegou a pé, ferido de morte. Antes de tombar na terra crestada, ainda conseguiu dizer com voz fraca:

Estão quase na cidade...

Desesperados, sem saída, homens e mulheres se entregaram à luxuria, à devassidão e ao crime. Beberam, comeram e fornicaram como animais enlouquecidos, sabendo que o amanhã não existiria. Disputando parceiros sexuais, atiravam-se uns contras os outros, rasgando peles e roupas. Punhais, pistolas, espingardas e lanças foram usadas para matar os antigos amigos.

Quando o quinto mensageiro chegou, trazia um espelho:

Esfarrapados, sangrando, cercados de mortos e feridos, tripas e miolos se espalhando na praça, imundos, bêbados e cheirando a salitre, eles reconheceram:

Apesar de todo seu medo, os bárbaros, finalmente, tinham chegado.