A CASA
Elói Pereira de Melo
 
 

As crianças de pés descalços, os olhos estrelados, as roupinhas sujas, cuja cor primitiva poderia se ver, pois sobravam alguns pedaços intactos.

Entre o vai e vem de pessoas lá estavam, e a curiosidade ali presentes naqueles corações pequeninos com tanta ingenuidade, a esperança de um mundo atingível, tendo o tempo quando como aliado, um imaginário que crescendo desaparecem as desigualdades.

O natal se aproximava, com ele o brilho das luzes começava ganhar espaço nas fachadas e vitrines, um mundo colorido com o intuito comercial e comparações.

Para elas, a esperança não estavam só em um presente, pois este pouco poderiam esperar, seria um natal como os demais, com uma pequena refeição cotidiana quando possível, e nem sempre na presença dos familiares.

O sol ardente, cujos raios mais pareciam chamas, a areia escaldante, a ponto de explorar os limites, faziam parte daquelas três vidas, nascidas talvez não muito a contento.

Se o Papai Novel soubesse de suas existências, não as deixaria de pelo menos passar em frente de suas casas, mesmo que fosse para lhes dar uma simples bala, e encontraria além de portas abertas, vidas a serem construídas, a espera da tão sonhada bonequinha, e os carrinhos até então atrativo nas coloridas vitrines.

Com seu gesto imponente em uma esquina, despertava a admiração dos passantes. Caminhavam com as cabeças voltadas para traz, a contemplar tal monumento, seria o ambiente mais confortável do mundo, e todos imaginavam de como seria o interior. Mulheres falam a si próprias, e aos maridos, ser um sonho que jamais poderiam almejar. Mas, afirmavam aos filhos que poderiam conseguir, desde que estudassem, tivessem uma boa profissão, fossem obedientes, que lhes seria possível. Que não esperavam por forças de seus próprios trabalhos, pois, já tiveram passado parte do tempo de suas vidas, sem nenhuma economia. Mas que para eles era diferente, teriam a vida toda para labutar, e conseguir o que quisessem.

Naquele ano, ganhara cores novas, muralhas trabalhadas, cujos detalhes implícitos, ocultavam dispositivos que garantiriam a privacidade e a segurança dos moradores. A julgar pela parte externa, o interior deveria ser uma réplica do céu, onde reinaria a harmonia e a felicidade.

As imaginações diferentes de que para se manter em ordem deveria depender de varias pessoas, governantas dando ordens, jardineiros, empenhados em deixar os jardins floridos, a grama sempre bem aparada, a piscina em ordem, e ainda mais agora que as festividades estavam próximas.

Se batessem a porta, e pedissem algo, e se as ganhassem, o natal ganharia outra conotação, e brilho das luzes contrastaria com o dos olhinhos sofridos, amenizando por momentos tais mazelas.

Os portões sempre fechados, guaritas, guardas armados, cães ferozes, faziam parte de um ingênuo escarmento, dando a certeza de que ali, abaixo dos castigos divinos, estavam protegidos das ações do homem.

Tudo planejado com detalhes. Para ter acesso a tal ambiente, somente os empregados, que para tal feito, tinham suas vidas investigadas nos pormenores, os moradores, e os familiares mais próximos.

Certo dia, os primeiros raios de sol surgiram, entravam e saiam viaturas policiais, homens com barbas sujas, suor, e desleixo, as luzes natalinas, ainda acesas, faziam o contraste com flashes dos fotógrafos, e os repórteres a interrogarem os vizinhos.