FALCÃO
(Ou memórias fragmentadas de uma guerra silenciosa que a tv insiste em trazer para dentro de minha casa...)
Zeca São Bernardo
 
 

Suor frio que já não incomoda mais ao corpo...
finalmente a bala tão perdida encontrou um caminho,
um corpo nu num barraco qualquer.

Sem voz, sem mais solidão ou medo.
Nem os poucos sonhos retratados nas
Tabuas que serviam de paredes do barraco
Sobreviveram a invasão.

Nunca saber-se-á quem deu o primeiro tiro!
Se a polícia no cumprimento de seu suposto dever.
Ou será que partiu de alguma quadrilha rival?
E que realmente importa ao corpo sem vida?

Sem sol, nem lua
Sem chuva, sem sorriso
Sem lágrima e sem adeus
Que chegue a seus ouvidos surdos
Pela morte.

Não, não é mais um noticiário barato
Nos lembrando a distancia entre o asfalto e o morro.
Ou outro documentário que aprece retratar a realidade
De alguma guerra num país tão distante.

Muito pior que isso...
...são fragmentos de uma guerra silenciosa
que segue por um sem fim de dias, vidas,
agonias, dor e resplendor das almas sofridas
que são caladas brutalmente.

E o pior de tudo isso, não é a falta de capacidade
Do estado em gerar desenvolvimento ou salvaguardar direitos
Inquebrantáveis constitucionalmente e sim,
A falta de humanidade nos olhos de todos nós quando
Assistimos as imagens que chegam em nossos lares pela tv.