QUER IR COMIGO?
Adriana Vieira Bastos
 
 

Surpresa com o convite do marido, Helga pensou: “ - Quem sabe seria aquela viagem o afrodisíaco que estavam precisando para esquentar um pouco a gélida relação em que se transformara a vida a dois?” .

Sem pestanejar, aceitou o convite e arrumou as malas. No dia seguinte, partiu rumo ao Brasil, famoso por seu clima tropical e sensual, com a forte sensação de que, quando voltasse, não seria a mesma.

No entanto, mal chegou ao aeroporto, pressentiu que as coisas não caminhariam do jeito imaginado. Nem bem o avião aterrisou, o celular tocou, Frank se desconcertou e no hotel a deixou.

Caminhando em direção ao táxi, Frank ainda voltou e lhe disse que não se preocupasse, pois se tudo desse certo, ele voltaria tarde da noite. Não a levaria consigo porque o compromisso era de negócios. Ela deveria entender.

E ela entendeu. Entendeu durante uma semana, duas, três, quando, cansada de tanto entender, resolveu, ao recebê-lo tarde da noite, colocar para fora toda a sua frustração.

O marido, inconformado com tal pressão, respondeu-lhe que não via razão para tal descontentamento. Segundo ele, ela devia levantar as mãos aos céus, pois enquanto ele trabalhava, ela podia não fazer nada, curtir a praia, os shoppings e as belezas naturais da cidade.

Mas ele só não entendeu que ela atravessara o oceano em busca de resgatar a magia que os havia aproximado. Desiludida, percebia, já quase na hora de voltar, que se encontrava mais só do que quando partira.

Triste com tal constatação, resolveu sair para dar uma volta. Resolveu aproveitar o que o país lhe oferecia, já que o seu marido não tinha mais nada a lhe oferecer.

E aproveitou. Numa de suas caminhadas experimentou um amor de verão. Amor destes que faz perder a cabeça e deixar ao lado da cama a razão...

No final da quarta semana, arrumou as malas e voltou para sua casa com a sensação de levar algo dentro de si. Sorridente, sentiu sua profecia se realizar...

Um ano se passou e, desta vez, Helga veio para ficar. Trouxe a tiracolo seu filho, fruto da viagem que mudou sua vida. E quando alguém, inconformado, lhe pergunta por que ela havia escolhido um nome tão exótico para a criança, ela responde: “ - Ele só poderia se chamar Brasil. De tão Brasil que ele é...”.