POROS
Luciana Pareja Norbiato
 
 

Um toque com a ponta do indicador, seu dorso de bicho novo. Os pêlos eriçando um a um, posso ver, como se na minha frente agora, seus poros se comprimindo e se dilatando ante o contato das minhas mãos.

Um arrepio na nuca. Sua voz rouca. A última vez em que te toquei. Eu te quero como nunca, você tão longe, não há como te alcançar, ouvidos ariscos para o que quer que eu queira dizer.

No entanto, você me vem instante a instante, fotografia indelével diante dos olhos, aroma cruel pelas narinas, o tato latejando sua pele, seus poros, sua macia materialidade impregnada na ponta de meus dedos enquanto amasso o teclado, na impossibilidade de ter você em mim outra vez.

Eu quero o acaso. Eu quero você. Não posso, não posso te querer, não posso ter você, que se esquiva e vai longe, não há nada que eu possa fazer quanto a esse fato, só aceitar o fato de que você não me quer mais e isso é tudo.

Se ao menos eu pudesse esquecer todas as inenarráveis sensações que não me deixam, que não deixam meu corpo como dores, porque tão claras sem você em mim.