VIDA EM ETERNA TRANSIÇÃO
Ken Scofield
 
 

Renato adorava o verde, seus cavalos e em sua fazenda era onde encontrava a paz que por muitas vezes lhe faltava quando estava estudando em plena cidade grande. Possuía também seu lado urbano, o qual lhe trazia alegrias e algumas decepções. Estava ele agora em um daqueles momentos de paz, acariciando talvez um de seus mais fieis companheiros, seu belo negro cavalo que se chamava Hércules. Por ele ficaria ali por horas relaxando, pensando na vida, estudando tantos acontecimentos. Onde tinha errado, ou tinha acertado, onde mudaria, ou onde encontraria motivos até para ter raiva de si mesmo. E seu cavalo lhe fazia companhia, parecia até que era seu melhor confidente.

Voltando um pouco no tempo se explicaria todas as indagações de Renato: tudo na vida dele rapidamente se tornava passageiro. Seus amores nunca duravam, afinal ele não tinha nenhuma sorte com seu lado sentimental. Sempre acabava por ter a obrigação de transformar seus sentimentos, pois nunca era correspondido. Suas escolhas profissionais também não duravam muito, ele já estava em seu segundo curso universitário e já pensando em fazer um terceiro. Sempre era assim, depois que se encantava com algo, demorava um tempo e percebia que não valia à pena, e logo começava a se encantar novamente, tornando tudo muito passageiro. Sempre havia um momento dentro de todo esse processo onde ele quase tinha a certeza que finalmente tinha encontrado o rumo certo e que aquelas repetições de eventos tão transitórios havia terminado. Logo em seguida sempre se decepcionava.

Parecia ter um fascínio por situações que dificilmente se tornariam definitivas, mesmo sempre procurando algo que durasse a longo prazo. Era um paradoxo muito grande, pois dificilmente conseguia firmar o pé no chão, por mais que quisesse. Ele vivia um momento em que mais do que nunca acreditava que podia estar começando uma fase mais constante em sua vida, mesmo enxergando algumas nuvens negras o rondando. Tinha finalmente encontrado algo que adorava fazer, tentaria, se coragem tivesse, investir nisso. Já em seu lado sentimental, parecia que a contragosto dele, tudo continuava desconfortavelmente transitório. Mesmo tentando finalmente chegar a uma situação mais segura e constante, não se podia dizer que ele não amasse cada uma daquelas suas paixões transitórias. Pelo menos não parecia arrependido de nenhuma delas. Afinal amar era algo que o transformava e que trazia sentido a sua vida. Ele só pedia a Deus, um dia ter a sorte de acertar em um alvo que trouxesse a tão sonhada felicidade que ele buscava sempre. Já no lado profissional, se teria a coragem necessária para essa nova tentativa de acertar, só o tempo iria dizer.