FOLHA AMARELADA
Carla Deboni
 
 

Se me escondo sob a transparência dessa água que nada sabe de mim, é o medo da descoberta que me impulsiona, ao mesmo tempo em que a curiosidade que me separa do outro lado da fina película líquida parece me guiar. É como se ao me arrastar pela terra esmagasse os resquícios dos passos de outrora, e se tenho os olhos vermelhos sob o luar a culpa é dessas lágrimas que insistem em me lavar o rosto mais uma vez.

As garras e os dentes, vou escondê-los para que não tenha mais medo de mim e assim se aproxime. Minha fúria é tão pacífica quanto minha mansidão. Minha lentidão só não é maior porque já encontrei o ritmo exato de minha vagarosa ansiedade a carregar o peso do corpo condenado pelo estigma de Dorian Gray.

O que fazer dessa cauda que me balança o corpo? Acho que só me resta limpar o chão onde escrevi os sonhos já perdidos na sombra de alguma folha amarelada.