A CASA DA LEILA
Carvalho de Azevedo
 
 

Afinal tinha completado 18 anos. Ufa!

Senhor de si, avisou a mãe que iria visitar uns amigos no interior.

Era uma sexta-feira. Com algum dinheiro, fruto de longa e penosa economia, dirigiu-se à Estação Rodoviária, que na época funcionava bem em frente à Estação Júlio Prestes, onde hoje é o espaço cultural na antiga Sorocabana, em São Paulo.

Contou de novo o dinheiro disponível. Optou pelo trem, por ser mais barato.

A viagem de pouco mais de três horas, pareceu ter durado doze. Era muita ansiedade, muita vontade de chegar.

Enfim, o chefe de trem passou apregoando a próxima estação, a próxima cidade. Chegou!

No desembarque, só ele e talvez, meia-dúzia mais de passageiros, todos homens e jovens. Acendeu o continental sem filtro (com o Ronson dourado recém-ganho), deu longa e prazerosa tragada, com estilo, nos moldes dos atores que por tantas vezes tinha visto nos filmes.

Longe de casa — mais de três horas de trem — iria desfrutar de inteira liberdade.

A estação ferroviária era acanhada, mas pareceu-lhe acolhedora. Na pequena praça defronte, havia um hotel, um bar, um restaurante, um ponto de táxi com um carro e bem no centro um coreto.

Dirigiu-se ao bar. Pediu uma cerveja bem gelada e chamou a atenção de uns três ou quatro fregueses pelo estilo. Primeiro porque tomar cerveja pressupunha que o forasteiro tinha dinheiro, segundo porque nunca se tinha visto ali moço tão bem vestido e perfumado.

Aquelas pessoas que ali estavam tomavam suas cachaças baratas lentamente, para que as horas passassem sem terem de gastar muito. Além de tudo, às sextas-feiras, era dia do trem de São Paulo, evento que as pessoas simples e humildes da cidade não perdiam de jeito nenhum, para poder espreitar os forasteiros.

Quando ia pedir a segunda cerveja, foi avisado pelo dono do bar que, infelizmente, o bar iria fechar. Desapontado e meio sem jeito perguntou ao senhor se havia algum lugar onde ele pudesse pernoitar.

O dono do bar apontando o hotel quase em frente informou que o estabelecimento era familiar e bom. Só que àquelas horas, ele não encontraria mais comida. Sabe como é cidade pequena, né? Tentou justificar.

Lá no alto, perto da igreja, tem uma pensão que é da minha família, lá o senhor pode encontrar uma boa cama e comida caseira a qualquer hora, é só chegar.

Do lado contrário, lá no fim da cidade, tem a casa da Leila. A cada da Leila é famosa aqui na região, tem sempre muito homem de fora, principalmente, às sextas-feiras...

Era justamente o que ele queria ouvir. Afinal, passou boa parte dos últimos anos esperando por esse dia, a sua primeira vez.