EU QUERO ENCONTRAR UM AMOR OU A PRIMEIRA VEZ
Flavio Martins
 
 

“Somos feito da mesma matéria que os sonhos”
William Shakespeare

Quero ler um livro, apenas mais um. Aquele que me indique o caminho para encontrar um grande amor. Não precisa ser desses amores de novela, nem daqueles para a vida toda, mas precisa ser amor. Através de várias viagens, sou um cidadão do mundo mas desconheço o amor. Tenho dividido os últimos anos de minha vida entre os discos de bolero, meus livros e um grande sonho. Nunca encontrei um grande amor. Sempre fui rodeado por sentimentos passageiros, nunca amor. Quero mesmo é viver nos poemas de Vinícius, porque acredito que lá o amor é um sentimento concreto, embora isso possa parecer paradoxal. Quero amar.

Queria um amor denso, que durasse míseros 5 minutos, mas que enquanto durasse fosse realmente amor. Alguém para se importar, brigar, concordar e discordar, elogiar e criticar. Quero um amor simples como um algodão doce, porque viver já é muito complicado. Que meu amor não se importe se eu usar aquela camiseta amarelinha a semana toda. Que meu amor goste de planta, arte, bicho, de cinema e de conversar sobre tudo, mas que, sobretudo, me perceba quando eu falar sobre nada. Que esse amor me dê carinho e respeito e que faça sexo num ato de amor. Que meu amor seja amigo e que fale de política e me explique quem é Deus, mesmo se não O conhecer. Quero um amor capaz de tornar semântica a palavra família. Para ser meu amor não precisa ter dinheiro, nem fama ou corpo de modelo. A idade não importa, basta me dar amor. Que me faça sentir o coração como se sente um calo ou um espinho na carne. Que me faça também ter certeza de que está ali, não precisa me entender, mas que eu saiba que me ouve, pois sei que sou mesmo complicado. Que meu amor me ligue num domingo de manhã sem razão. Que nesse telefonema não se importe se eu não disser nada, mas que me sinta. Quero um amor sem vergonha, sem timidez. Não precisa ter soluções desde que me ajude a sobreviver aos problemas. Quero um amor pra andar de mãos dadas pela rua, pela Bahia, que me faça descer pra floresta com desejo. Que meu amor seja suave e selvagem, paradoxal, mas nunca prolixo. Que não me sufoque nem me entristeça, mas que me faça sentir homem, antes do fim do meu ciclo. Quero um amor romântico, shakespereano, um amor Ágape, Eros. Quero um amor Amor.

Quero um amor, mas que meu amor não seja efêmero, afinal, não se pode amar com pressa quando se ama pela primeira vez.