A VISITA
Osvaldo Pastorelli
 
 

Aos sábados, às oito horas em ponto, era a hora da revista.

Fizesse sol ou chuva, caísse o mundo ou chovesse canivete, o quartel todo se apresentava em frente ao corpo da guarda para a costumeira e semanal revista.

Cabelo cortado, barba feita, uniforme limpo, coturno brilhando mais que o sol, mosquetão devidamente limpo, e o essencial, cantar o Hino Nacional sem errar uma vírgula sequer.

A agitação nas sextas-feiras a noite era intensa.

Era à noite de verificar se o uniforme estava completo, não podia faltar nada, era também conhecida como a noite do “me empresta isso, me empresta aquilo”.

Pois no sábado, às oito horas em ponto, sem passar um segundo, o esquadrão tinha que estar formado em frente ao corpo da guarda para a revista.

O Comandante no passo altivo, peito estufado, passava entre os soldados, verificando cada um se estava condizente como deveria de estar um soldado. E passava com o ouvido quase encostado na boca do soldado para verificar se ele estava mesmo cantando o Hino ou apenas mexendo os lábios tentando enganar. Queria ouvir da nossa voz palavra por palavra o Hino Nacional.

E tinha outro ponto importante. Não podíamos nos mexer, nenhum soldado, tínhamos que ficar como estátua, olhando para frente, peito estufado, barriga para dentro.

Quantas vezes depois da vistoria, nosso esquadrão ficava mais de horas debaixo do sol quente, o suor escorrendo, cansado, com fome, com o mosquetão apoiado nos ombros, só porque um infeliz tinha se mexido.

Enquanto os outros já tinham se recolhido cada um para o seu esquadrão, o nosso como era o 1º Pelotão do 1º Esquadrão, tínhamos que dar o exemplo e, lá ficávamos horas a fio para aprendermos a ser comportado na hora da revista.

Isso era, para nós, o pior dos castigos.

A primeira vez não foi fácil. Dois soldados não acostumados com o forte sol, mais a fome, pois não tiveram tempo de tomar o mirrado café, desmaiaram.

 
 
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