CONVERSA DE PRAÇA
Andrea Natali
 
 

Dois caipiras sentaram no meio da praça e estavam numa discussão que não acabava mais. Zeca e Josmar falavam sobre a dor de dente da Dorinha.

- Josmar, cê num sabe o que a Dorinha foi no dotô do dente? Ela tava passando tão mal que até a água ardia!

- A água ardia, Zeca? Cuma ansim?

- Uai, a água ardia no dente, Josmar! A dor era tan forte, tan forte, que ardia no fundo arma.

- Ô seu besta, cê ta falando bestera! Num era a água que ardia, era o dente dela que doía.

- Mas é verdade verdadera, amigo, ela só se queixava... A água arde o dente, a água arde o dente..

- Ocê tem certeza disso?

- Assoluta!

De repente, no meio da praça aparece o irmão mais novo da Dorinha e os dois amigos resolvem perguntar para o Joãozinho da menina.

- Joãozinho, vem cá, menino! E a Dorinha, ta mior?

- Mior de quê? Ela num tava doente!!!

- E por que eu ouvi ela gritando o dia inteiro que água ardia o dente dela?

- Oceis são burro mermo! – respondeu Joãozinho – É que meu vô levou pinga pra ela tomá, mas na cidade dele pinga chama aguardente. Aí ela ficô o dia todo gritando, só porque a palavra era bonita... Aguardente! Aguardente! Aguardente!

O menino saiu correndo atrás da bola e deixou Josmar e Zeca, sozinhos, no banco da praça. Zeca, pensativo, virou pra Josmar e disse:

- Josmar, meu amigo, vamo bora lá na casa da Dorinha porque eu fiquei com vontade de tomá essa água ardente...

- Zeca, é aguardente!!!!!