"VIDARDENTE"
Tatiana Rodrigues
 
 

Ela caminhava pela trilha a horas.
Horas estas que se passaram em total desespero.
Ela estava perdida.
Pensou em diversas possibilidades, pensou em muitas alternativas para se salvar, tentou todas elas. Agora não tinha mais esperança, apenas caminhava sem rumo.
Já era noite, mal enxergava.
Percebia que pouco a pouco sua visão acostumava-se com a escuridão.
Alguns vultos eram novidade naquele momento.
Ela perdeu o controle, estava entregue.
Respirou profundamente e fez somente o que podia fazer, andar.
Assim que conseguiu tranqüilizar sua mente, vieram os pensamentos filosóficos, algumas soluções inesperadas, algumas esperanças para divagações de sua alma.
“Engraçado tudo vir quando deixei de esperar”.
Viu-se sorrindo outra vez!
Num ponto do trajeto encontrou um canto aconchegante. Estava cansada e surpreendentemente em paz. Deitou-se e pegou no sono.
(...)
Acordou com frio e a luz do sol no rosto.
Espreguiçou-se, olhou em sua volta e seguiu um caminho que imaginou ser a continuação daquele que havia feito no dia anterior.
Muitas horas de caminhada.
Veio a dor, veio o medo, veio à fome, a desesperança novamente e a sede matadora.
Acreditando no “seguir em frente”, queimada de sol, sentia-se desidratada e extremamente cansada. Foi quando ouviu barulho de água.
Foi guiada pela música, a mais bela música das águas.
Quase em êxtase jogou-se num pequeno poço formado nos pés de uma cachoeira.
Abençoada água!
Suas pernas fraquejaram, seus braços lutaram pouco contra a correnteza.
Não tinha mais forças.
Sentiu toda sua vida circulando no corpo.
Esta vida que corre rapidamente. Seu corpo queimava e as águas eram mãos suaves acalentando seus anseios, levando-a para longe.
Eram anjos, anjos que a levaram na “aguardente”.