CÉU LIMPO EM UM JARDIM DESERTO
Ken Scofield
 
 

Um chão iluminado pelo forte sol era o que se via naquele dia em que não se podia ver uma nuvem sequer. Seria assim também à noite, nem lua, nem muito menos alguma estrela. Sem vento, sem barulho, o que podia se chamar de um ambiente de paz? Não, não para aquele homem. Adauto enfim dormia calmamente, e só naquele instante conseguia sossego verdadeiro, ou quase. Podia sonhar, e então via um jardim destruído, abandonado, parecia surdo, pois o silêncio era profundo. Nem acreditava no que estava vendo, pois havia se acostumado em notar a beleza das flores, cultuar o céu, com a lua e as estrelas, e de repente, nada estava ali.

O mundo parecia outro, menos interessante, mais solitário, sem muito propósito, o encanto deveria ser descoberto em outras fontes. Tudo e nada poderiam ao mesmo tempo encadear algum deslumbramento, mas seria ele real? Valeria à pena? Tudo não iria sumir novamente de modo tão rápido? Adauto se revirava então na cama, era como se tivesse transportado todas essas perguntas que estava se fazendo durante o dia, enquanto acordado, para seu sonho.

Alguém interrompia o sono de Adauto e avisava que mais um longo dia de trabalho teria início, uma renovação urgente naquele jardim era desejada. Não sabia ele que tipo de plantação preencheria aquele espaço. Cuidaria de limpá-lo, aprontá-lo de um modo que não deixasse nenhum resquício daquela sujeira, que não era pouca. Enfim tentava adaptar-se a nova realidade, estava fazendo o que lhe foi pedido, ouvia músicas que o ajudavam, que o faziam pensar que estava pronto para novos ares, para surpresas talvez. Tinha a certeza, ouvindo-as, que por mais que tudo parecesse não tão interessante como antes, era tudo questão de tempo, passageiro, uma fase nada agradável, mas que a vida iria trazer novamente cores vibrantes para seus olhos.