O QUEIJO E EU...
Silvia Pires
 
 

Há momentos em nossas vidas que nos questionamos sobre várias coisas. Porém, existe uma simples pergunta de apenas três palavras, que é capaz de nos fazer entrar nos recantos mais escondidos de nossas mentes:

“Quem sou eu? “

Pensando nisso com freqüência e buscando respostas reveladoras, um belo dia, distraidamente abri a porta da geladeira e me deparei com um pedaço de queijo, que descansava solenemente num prato de sobremesa. Não tinha idéia de quanto tempo ele estava lá, mas visivelmente algumas semanas. Em sua exemplar arte da sobrevivência (sim, pois para mim, aquele pedaço de queijo era um ser vivo), criou por toda sua volta uma crosta amarelada e endurecida, com a finalidade de se proteger do frio cortante.

Interessada naquela reação natural, tirei o queijo da geladeira e coloquei-o em cima da mesa e me sentei olhando fixamente para ele, pensando em todo o trabalho e esforço dispensados na construção daquela muralha de defesa.

Contudo, minha curiosidade venceu e com uma faca em punho, cortei o pobre queijo ao meio. Constatei que, por dentro, ele continuava branquinho e imaculado, como se a ação do tempo não tivesse o poder de transformar seu interior em algo amarelado, grosso e amargo.

Assim, acabei percebendo que o queijo e eu éramos seres semelhantes, que criam grossas cascas por fora, para se defender, mas que no íntimo, preservamos nossa verdadeira essência.

Diante disso, posso afirmar que, não sou um pedaço de queijo, mas com certeza faço parte de um complexo organismo que luta para sobreviver e se manter original.

O único e insolúvel problema, é o fato de que tanto eu quanto o queijo, temos prazo de validade...