PANACÉIA
Lucio Valentin
 
 

Eu sobrevoava com o meu helicóptero os caminhões despejando areia no limite do imenso mar de gelatina verde. Sobrevoei a praia que estava sendo construída e o helicóptero passou sobre o caminhão de gasolina onde um negro experimentava o lança-chamas.
(PANAMÉRICA, Jose Agripino de Paula).


então eu estava lá e vi a luana piovanni se masturbando, e não era tarde, nem claro feito o dia -, mas tudo, porém, ia mais ou menos conforme o combinado. ela deveria deitar-se numa banheira de espumas e, ao primeiro sinal do contra-regras, sentar-se na borda com as pernas levemente escancaradas – como naquela cena da galisteu barbeando-se em playboy – e, vagarosamente, render homenagens múltiplas ao deus onan. ou não. hi, hi. quase tudo saía perfeito, porque a certo momento marcos palmeira, que já a tinha comido na vida real – e que, aqui, fazia o papel de quem nesse mesmo instante a iria ficticiamente de novo comer – adentraria o cenário, antes da hora, pois a moça ainda não havia de fato iniciado o take mais cobiçado pelo intrépido diretor, bem como por todos ali no set: um - digamos – preciosismo autoral: antes mesmo de apresentar aqueles pequenos e grandes lábios, a gostosa deveria vir vagarosamente nua, virar-se de costas – maravilhosamente nuas e em close – e... huum... abaixando-se como quem faz que vai pegar algo de repente que caíra no chão cenográfico, ofertar à plebe rude a esplendorosa bunda. talvez por isto palmeira tivesse se excitado mesmo antes do tempo, porque o homem entrara já no set totalmente em riste, decerto devido à intimidade off-set com a moça – e não se fez de rogado. perfeitos. sem cortes. nos intervalos, lembravam velhos dias em caras, na ilha. meninos vadios. tensões flutuantes. jetset meio jeca. mas todos lá. lili, huck, liege, safir. boni, gugu, vavá, etceterrá. gente da pesada. sertanejos de tudo, com circulação livre. por isso mesmo é que a certa hora zezé de viola já em punho começaria a entoar mais uma. e nessa loucura de dizer que não te quero servia então de fundo para a língua de palmeira em piovanni nos jardins palaciais de caras. e logo já o jet estaria a fazer corinho, sobretudo porque rondavam a nobre carniça paparazzis globais. mais um clip. é fantástico. na seqüência, aquela zinha do bigbrother, fazendo – claro – uma ponta, apareceria de coxas e seios, numa espécie de doméstica-fetiche, para logo dispersar o casal servindo algo como suco ou café – exatamente quando o tal diretor gritasse: corta. e todos então caíssem do transe astral voltando a si. a loura má – que estivera ali de intrusa apenas para gravar punhados de gafes de cenas para seu próprio brilho chinfrim, de súbito, alucina aos berros: onde foi parar meu baton e meu blush e meu pó? onde? onde? ela desatinou. desandou a dar frenéticos pulinhos. eu vi, meninos. que logo depois entrara o pai, na figura de um tarcísio sóbrio, mas decadente. e que deveria com seus cabelos e bigodes brancos convencer a moça de que transar assim não podia cair bem mesmo aos olhos da vizinhança. na banheira. à luz do dia. não que a vizinhança soubesse da banheira, mas os gritos. os gritos de lascívia. (porque tudo deveria se dar – não com sussurros –, mas aos gritos. porque valia o script. o escrito). em verdade vos digo que na volúpia da cena haveria momentos em que marquinhos pareceria roberto bonfim na dama do lotação, com uma sônia braga puro suco nas mãos na grade no bus, fazendo de tudo. todo dia toda hora toda madrugada: cheio de inferno e céu. e ela gemendo entre lábios carnudos sorriria, implorando já em desespero o delirante orgasmo que perpassasse a mente do neville de então. roberto virou velha celebridade. sônia foi para os estados unidos dar para redfords westwoods, de niros que nada tinham a ver com a estória. marquinhos táquitá. traçando tudo. neste instante sua tarefa árdua, posto que lá fora batesse um sol lancinante, era aquela. conforme dizia: - feijão com arroz . não seria mesmo a primeira vez do cara com a loura. claro que depois dele teve o fulano o cicrano o beltrano o fulano – e isto de alguma forma não lhe batia bem na mente agora. lembrava, sim, daquela entrevista do py no gugu. putz. mistura de realidade e ficção? esquizofrenia? trauma de macho? porque afinal ele também andara saracoteando por aí em capas e revistas, louras e morenas. fora visto em bandos em bares do leblon e do cosme velho. ia agora encanar? vixe, mas que nada. o homem era profissa. casca-grossa mesmo. canastrão – é vero -, embora nem estivera metido em coisas de terra nostra (aliás, cá pra nós, sem trocadilho: se diz por aí que o que menos se deu ali foi comilança. porque parece mesmo que um dos dois não é lá muito chegado, sssss). mas consta que marquinhos fizera o tal 21 inúmeras vezes. hi, hi.... luana alucinada queria era mais. tô nem aí. todo mundo é de ninguém. entre dentes vinha também nessas horas à mente a capa em que a beldade se declarava dadeira. ou a outra onde falara de sua doudeira, quero dizer doideira. no vão de gabeira e giba e zé quando perguntado sobre o que levaria para uma ilha deserta ou o que não esquecia de trazer na bolsa - ou alforje - quando saísse de casa: um tapinha não dói. e era de fato do que ela mais gostava. claro que só marquinhos tinha esse segredo de alcova. na bunda na bunda na bunda, como diria manuel bandeira trêbado em antigos carnavais: na boca na boca na boca. sessões sadomasô na mansão. diz que ela gostava sendo amarrada. gozava alucinogenamente. tipo assim, dizia: pra relaxar. piranha. pensava. por isso talvez é que palmeira entrara duro. de primeira. era a cena: olhos rijos na mina, cuja reação mais radical fora abrir-se em flor. rosada. pensava marquinhos. quem faz 21 vinte e dois faz. fartaram-se. vou te contar.