A SAÍDA...
Monalisa Budel
 
 

Ele olhou o céu durante algum tempo, o corpo imóvel, a mochila nas costas, o olhar ainda perdido no nada. Absorto e preso naquele seu momento, se inclinou, tocou então o chão, escolheu um pedaço para si, uma pedra. Era tudo que lhe bastava. Isso era o que ele levaria de seu. Olhou uma última vez para traz, guardou a pedra na mochila, começou a caminhar, foi o inicio da jornada em direção á liberdade, a estrada estava ali á sua espera, na sua frente. Estava deixando para traz uma história de promessas. Ele não queria mais aquilo, não queria mais os papéis e a briga pelas promoções, não queria mais a vida pequena, sem horizontes, sem sensações, não queria mais essa vida sem nada para se ver e viver. Ele iria começar uma vida nova, distante e incerta, mas nova e em outro lugar. Nada seria igual e mais nada seria permanente, dormiria na rua se preciso fosse, tocaria em bordéis, ou churrascarias se lhe pagassem. O importante e que estava à caminho de um novo inicio, de uma nova história.

Lembrou da carta que deixou na mesa da cozinha, tudo ali era tão simples, sabia que precisavam dele, sua mãe, sua irmã. Mas ele também precisava dele, precisava ir atrás do que acreditava, acreditava em pouco é verdade, mais ainda acreditava, era preciso fugir antes que fosse consumido, antes que se acostumasse a pagar as contas sem reclamar, a sentar na frente da tv e esperar a hora de trabalhar, era preciso sair antes de se tornar só mais um no mundo, só mais uma pessoa que não conhece nada além das luzes do escritório e do brilho do computador. O sol quente lhe deixava tonto, sentia os carros passando próximos ao seu corpo, o aperto no peito e aquele nó na garganta era preciso coragem, mas as pernas tremiam. Abaixou a cabeça, os olhos da mãe lhe vieram na mente, suas rugas, as mãos magras enquanto derramava a água no café, o vento brincava na cortina de rendas velhas, penduradas na janela acima da pia. Ele se distraia e não escutava as recomendações da mãe, ela sempre lhe pediu para ser um homem certo.

Deixou os olhos da mãe, na carta:

“Mãe, estou indo, não sei se dá pra voltar, estou levando meu violão, o dinheiro do mês está no envelope, eu vou embora, não dá pra ser o cara certo. Larguei o trabalho, não dá pra voltar atrás, vou para o mundo começar minha vida de novo. Dou notícias assim que puder...”

Levantou os olhos e fez sinal, em 15 minutos o primeiro carro parava.

- Vai para onde garoto ?

- Pra onde o Sr. está indo ?

Ele mal ouviu a resposta, já entrava no carro sujo e com cheiro de mofo, pensou consigo “Não estou indo, estou chegando, chegando no mundo”