TODOS OS SENTIDOS
Eloi de Lima Xavier
 
 

Visão – Do horizonte, via-se o nascer do sol. Encostei-me na janela para contemplar a aurora de um novo dia, sem me dar conta que o trem já parava na estação. Joguei minha mochila nas costas e desci do trem. A cidade estava precisamente idêntica à mesma cidade que outrora me acolhia ainda menino, pés descalços, subindo em árvores e correndo pelas ladeiras estreitas, entre as esquinas, igrejas e casarões. Parei na praça e contemplei as casas coloniais, como quem contempla uma obra de arte.

Audição – O sino da Igreja Matriz badala seis horas da manhã. E ao longe, soa um apito longo da velha maria-fumaça. Os pássaros iniciam uma sinfonia entre as árvores da praça central. Os sons dos sinos tocados pelo vento, nas portas de alguns casarios, se misturam com os sinos pendurados nos pescoços de alguns bois, que desfilam pelas ruas.

Tato – Corro os dedos das mãos no portão de um velho casario. Aplaino suas paredes rústicas, na tentativa de sentir o pulsar do coração daquele lugar. A cadeira de balanço e a rede pendurada na sacada, guardam memórias que o toque de minhas mãos conseguem reconhecer.

Olfato – Um aroma envolve o ambiente. É uma fragrância longínqua dos meus tempos de criança, e ao mesmo tempo, um bálsamo tão perto, que parece me sucumbir.

Paladar – Entro no velho casario. Na mesa da sala de jantar, queijos, pães, requeijão, manteigas e compotas dos mais variados doces, adornam a mesa. No fogão de lenha, uma panela esquenta o leite.

Vejo uma senhora vindo em minha direção. Cabelos brancos, a pele envelhecida, o andar enfraquecido. Ouço o soluçar de quem chora de felicidade. Com suas frágeis mãos recebo um extenso e terno abraço. Enquanto recebo o abraço, um cheiro de perfume, que só as mães tem, exalam em minhas narinas. Retribuo com um beijo. Ela diz que estava me esperando, por isso preparou um banquete. E eu que pretendia fazer uma surpresa, acabei me surpreendendo. Havia me esquecido que as mães possuem um sexto sentido.