A vida -esta enorme ampulheta, onde se escoa lentamente a areia do tempo!

Minúsculos grãos, pingando um a um, segundo a segundo, e se acumulando na taça das horas já vividas.

E, à medida que caem uns sobre os outros, vão formando curiosos desenhos, delicados arabescos, fortes traços de um destino, esse artista invisível que a tudo preside.

Imagens, orra pintadas com as cores vivas das emoções, das alegrias, das esperanças renascidas, efêmeras como os amores da juventude -e tão passageiras quanto esta!

Ora, pesadas e cinzentas, tristes como a solidão das noites mal dormidas, densas como as nuvens que prenunciam as grandes tempestades que se abatem, impiedosas, sobre os nossos sonhos mais bonitos!

O homem não escreve a sua história.

Antes, desenha-a, mesclando cores e tons, misturando tintas, suavizando ou encorpando texturas.

A vida é uma arte, e somos todos artistas.