COMANDANTE CADU
Carvalho de Azevedo
 
 

Exagero de homem! Era assim que até a mais recatada e respeitada senhora se referia ao Comandante Carlos Eduardo, o CADU para os íntimos. Havia fãs anônimas que monitoravam seus vôos para que "fortuitamente" pudessem estar em Cumbica quando ele partisse ou chegasse ao comando de suas aeronaves. Algumas fãs mais abastadas cometiam o despautério de se darem ao luxo de viagens supérfluas, apenas e tão-somente para estarem mais próximas do Comandante CADU.

CADU, efetivamente, era um homem diferenciado fosse por seu porte físico e aparência, fosse por sua formação intelectual e profissional. Dono de tantos e tão raros atributos, jamais se deixou afetar. Sabia que era admirado, cobiçado, desejado quase obsessivamente. Sempre solícito, atencioso e educado, não economizava seu sorriso que mais parecia sorriso de publicidade de creme dental. Seu uniforme sempre impecável era o coadjuvante certo que complementava de maneira admirável sua aparência irretocável. Fora de sua atividade principal, CADU era sempre visto praticando esportes. Jogava tênis e golfe com muita desenvoltura. Era sempre o mais aguardado na prática do futebol nos fins de semana de folga. Jogava muito bem, com elegância e alta competência. Alguns diziam que quando adolescente, recebeu convites para profissionalizar-se até no exterior. Já próximo aos quarenta anos de idade, como podia aquele homem permanecer solteiro e cada vez mais atraente e sedutor era a pergunta que não se calava. As raras e discretíssimas mulheres que se gabavam de ter estado em sua companhia íntima diziam que além de tudo ele era simplesmente o máximo na prática sexual. Era o bom de cama! O parceiro ideal ao qual não se podia creditar nenhum defeito seja pela razão que fosse. Na verdade, mostrava-se sempre evasivo quando o assunto era compromisso sério, namoro. Casamento? Nem pensar! Sua atividade profissional e uma invejável liberdade de ser, alicerçada por uma situação econômico-financeira sólida, proporcionavam ao CADU a vida que tantos gostariam de viver.

Certa vez, foi chamado para fazer comercial/institucional para uma companhia aérea e, por ironia, não a sua. Ética e polidamente, não aceitou o convite, embora o trabalho pudesse lhe render polpudo cachê. Cada vez mais assediado para fazer o comercial, acabou por obter de sua companhia autorização para "rodar" o filme e depois de vários e infindáveis contatos e acertos com a produtora, uma surpresa! Ele deveria no filme, aparecer casando-se com uma das mais famosas atrizes do cinema mundial e, em seguida, embarcar para seguir viagem de lua-de-mel em uma das aeronaves da tal companhia aérea. Resultado? O CADU, que também já havia despertado o interesse da internacional atriz, desistiu de "rodar" o filme não dando a menor importância para o cachê, para o interesse explícito da atriz e, a essa altura, para a sua própria carreira profissional.

Passado algum tempo, quando perguntado por quais razões não aceitou o irrecusável convite, apenas disse: "Pra casar? Nem pensar!"