IRRITAÇÃO NO METRÔ
Osvaldo Luiz Pastorelli
 
 

O metrô não estava superlotado, estava cheio, vazio era difícil.

E naquele dia parecia que havia uma irritação geral nas pessoas.

Não sabem viver sem estar no desespero de alguma coisa.

Vivem correndo, atropelando, empurrando, sempre com medo de perder o último metrô, com isso, sem se perceberem perdem o que de mais tem de valor: a vida, o incomensurável sentir o que ocorre diante dos olhos e com eles próprios.

Com isso a vida se esvai num piscar de olhos e nem percebem.

Em pé, estava sendo empurrado pela senhora, a bolsa ou mochila, não dava para ver, roçava a perna. Sentia as costas molhadas de suor azedo revirava o estômago.

Será que não percebia como incomodava com a mochila?

Será que não percebia como ridícula é a vida tendo pessoas como ela?

Não, não percebia, se achava no direito de proceder como quisesse, o que nisso, tinha razão.

Mas viver como quisesse tem limite, há um ponto que não se pode ultrapassar, e ela ultrapassava esse ponto, esse limite.

A prova era a irritação dele ao ser exprimido pela mochila dela batendo em suas pernas quase que propositadamente, sem que ela fizesse alguma coisa para que isso fosse evitado.

E como demonstrar a ela sem que se zangasse?

- Oh! Minha senhora, não está vendo a mochila apertando minha perna?

- Ah! O folgado esta se sentindo incomodado é? Que pegue um táxi. - ela retrucaria.

E como detesta discussões, mais ainda em público, ficaria quieto, com o rosto pegando fogo de raiva.

Por sorte a próxima estação ele desceria.

Nisso ouviu duas moças conversando:

- E ela?

- O que tem ela?

- Está preparada para casar?

Não conseguiu ouvir a resposta, desceram na mesma estação que ele e se perderam na poeira da multidão.