O REMÉDIO
Raymundo Silveira
 
 

- Concordo. Também acho que não dá mais . Nem sexo existe entre nós... - disse ela.

- Bem, se o problema fosse somente este, haveria um remédio. Não é o mais indicado, mas diante das circunstâncias...

- Não diria que o problema é somente este. Mas ao menos não nos engalfinhamos em brigas escandalosas. Nos toleramos. Ainda assim não dá. Sexo é fundamental. Enfim... de qual remédio está falando?

- Conheço casais que salvaram o casamento por causa dele. Mas não sei se deveria lhe falar a respeito. Mesmo depois destes seis anos não te conheço o suficiente para saber como reagiria diante de determinados... assuntos...

- Pronto! Acaba de ficar à vontade para falar até de traição. Despertou a minha curiosidade. Não tem mais volta.

- Bem, o Romualdo me contou. Ele e a Celeste devem a estabilidade do casamento...

- A quê?

- Não! Não vou falar sobre isto. Vou só fazer um pedido. Fale com a Celeste, por favor...

- Você andou comendo a Celeste?

- Está louca? Acha que se tivesse acontecido teria coragem de pedir para conversar com ela?

- OK, quando nos encontrarmos... se me lembrar...

- Por favor, Paola, ligue para ela e marque um encontro. Ainda hoje.

- Hum, isso está me cheirando a armação... Vou ligar, sim. Não tolero mistérios... Sabe, duma coisa: não vou ligar coisa nenhuma, não... Não há nada que a Celeste possa me contar que você não possa. E tem mais, minha tolerância à curiosidade é limitada. Quero que me conte tudo agora!

- Então vou falar: trata-se de irmos a um motel...

- Bah! Isto já era. Tudo o quanto faríamos num motel podemos fazer dentro deste quarto. Corta essa!

- Você não entendeu, Paola.

- Como não entendi? Não sou burra. Vocês homens acham que a simples mudança de ambiente resolve tudo... Os nossos problemas seguem conosco para onde formos. Não se foge deles nem indo pra Lua.

- Continua sem entender. Não se trata disso. Bem, pelo menos não do jeito que você imagina.

- Pois então desembuche duma vez.

- Preferia que você falasse antes com a Celeste, mas como insiste tanto, tenho de perguntar uma coisa: promete confiar em mim?

- Como, confiar? Já desconfiei algum dia?

- É que o que estou planejando exige confiança sem limites.

- Sem limites? Tudo tem limites.

- Então, melhor encerrarmos por aqui...

- Ah, não. Já disse. Não tem mais retorno.

- Querida, a tal confiança sem limites é essencial. Se não fosse, jamais exigiria isso de você.

- Pois tá bom. Confio.

- Sem limites?

- Sem limites!

- Bom, temos de estar juntos num motel. Um motel de luxo. Quando você chegar, já estarei lá.

- Como assim? O que vou dizer ao porteiro... ao manobrista? Já ouviu falar em alguma mulher chegar sozinha num motel?

- Pode deixar por minha conta. Estarão prevenidos. Um deles indicará o quarto. Haverá muito escuro. Você só tem de entrar. Não precisa falar nada.

- Sei não... tenho medo. O que você está aprontando?

- Você disse confiança sem limites, lembra?

- OK. Tomara não me arrepender...

- Não vai se arrepender.

- Quando?

- Sábado à noite. Saia primeiro. Pegue o Vectra.

- Saindo primeiro, claro que chego antes...

- Não chegue antes das dez. Visite uma amiga. Assista a um filme. Vá ao Iguatemi...

- Devo levar algo especial.

- Só um pouco de KY. Posso esquecer de comprar.

- KY? Já sei. Não precisa mais dizer nada. Só não entendo por que num motel...

- Entenderá. Não se preocupe. E não esqueça: haverá trevas absolutas. Não tenha medo. Repito: estarei lá.

- Êpa! Será o que estou pensando? Não creio. Você não se atreveria...

- Hei, senhora. Em que está pensando? Também tenho meus direitos.

- Deixa de bestagem, homem. São meras fantasias. Você também não me contaria as suas...

- Talvez o nó górdio de muitas inadequações sexuais no casamento seja precisamente isso: o enclausuramento das fantasias.

- Não concordo. Não sou nenhuma neurótica. Tenho os pés no chão. Vivo a Realidade. Para liberar fantasias existem os sonhos. Eles foram feitos para isso. E não me refiro a sonhar acordada...

- Então você acredita no mito e foram felizes para sempre?

- Tenho 28 anos. Não sou criança.

- O que pensa da poligamia?

- Uma perversão. Uma prepotência machista. Para as mulheres, no mínimo, uma humilhação.

- E de uma escapadela ocasional?

- Desde que às mulheres seja dado o mesmo direito, nada contra. Mas por que pergunta essas coisas? Espero não ter nada a ver...

- Estamos apenas conversando... dialogando. Era o que deveríamos vir praticando há muito tempo.

- Concordo e discordo.

- Como assim?

- Concordo com o diálogo. Contanto que não resulte em aborrecimentos... ou num "acordo" onde só o macho leva vantagem.


- Nossa! Que breu!

- Me guia... Não vejo nada.

- Calma! Já estou de costas... Deixa tirar a calcinha. Há tempos não te vejo assim. O que deu em ti, tomaste viagra?

- Ai! O que é isto que estás pondo em mim?

- Ai! Não é seu pênis... ai...

- Por favor, assim dói. O que você andou injetando no pênis?

- Ai! Que glande enorme.

- O que você fez? Ai!

- Estes testículos não são seus. Não é você... Me solta...

- Devagar, então...

- Entrou... Tá passando. Não dói mais.

- Ai! Que delícia! Mais rápido, por favor.

- Mais! Acho que vou gozar...

- Mais, seu cavalo...

- Ai, tô quase...

- Gozando... Delícia!

- Que jorro quente! Que gostoso!

-Péra, pra onde você vai? Acende a luz. Está escorrendo nas minhas coxas. Preciso enxugar...

- Ei, onde você estava? Quem era o outro? Que loucura...