CAIXA DE PAPELÃO
Carla Deboni
 
 

Uma caixa aberta. Os livros empilhados no canto esquerdo da sala, as roupas dobradas sobre o tapete, os sapatos dentro de uma sacola encontrada ao acaso. A pior parte da separação é descobrir que dois anos cabem dentro de uma caixa de papelão.

Das meias nada sei, perdidas na mesma gaveta. Se agora terão passos distintos, para que pegá-las? Ah, ia me esquecendo da toalha... Ela se encaixa perfeitamente no vão entre os CDs e o porta-retrato. Agora somente porta, já que o retrato se foi. Está ali, sobre a mesa. Empoeirando. Engraçado olhá-lo novamente, vestido com a camiseta alaranjada de nosso nono encontro. De repente todo o encanto se foi. Há meses atrás eu acharia a foto bonita, os traços nobres e elegantes, os cabelos - levemente encaracolados - o penteado ideal.

Agora é mais um pedaço de papel. Talvez o verso sirva de rascunho para o próximo Carnaval.