O CANHOTO 35792
Dênis Sevlac
 
 

O homem entrou na loja de revelação de fotos. Sacou do bolso um canhoto. Entregou à Ana, a atendente. Ela foi buscar o envelope correspondente ao canhoto. Voltou. Entregou o pacote ao senhor de cabelos grisalhos ralos e olhar duro. Ele abriu o envelope e olhou as fotos. Devolveu tudo a Ana.

- Não conheço essas pessoas.

Ana estranhou. Deve ter se confundido. Comparou o número do envelope com o número do canhoto. Era o mesmo.

-Mas é o mesmo número, senhor.

O homem franziu a testa.

- Não são minhas fotos. Não conheço essas pessoas.

Os rapazes do laboratório devem ter feito confusão. DE NOVO! Quando iriam aprender? Tudo ficaria complicado agora. Terá que pedir ao cliente que espere. Vai conferir nos outros envelopes. Cada um deles. Caso não esteja entre eles, entrará em contato com outros clientes. Ver se levaram fotos erradas. Depois retornará ao senhor à sua frente para ele buscar as fotos certas. Isso se achá-las.

Explicou a situação ao cliente. Ele não gostou. Mas o que se pode fazer, não é?

- Que apareçam logo!

- Sim, senhor. Desculpe-nos.

O senhor virou as costas e foi embora.

Ela resolveu olhar as fotos. A primeira era uma foto linda de um senhor abraçado a um jovem que deveria ter a sua idade. Um belo rapaz, diga-se de passagem. O outro homem da foto era... O CLIENTE!

Como assim ele não conhecia as pessoas daquelas fotos? Como assim as fotos não eram as dele. Como assim ele ficou com aquele ar de senhor respeitável enquanto zombava dela daquela maneira? Como assim? COMO ASSIM?!

Atravessou o balcão como um bicho. Foi atrás dele. Foi tirar satisfações.

O homem estava uns metros à frente. Ela apressou os passos. Tocou o ombro do senhor com uma determinação ímpar.

Os olhos dele não eram os mesmos daquele que acabara de sair da loja. Tinha agora olhos perdidos. Olhos de criança. Era o mesmo homem, mas completamente diferente.

Um outro homem segurou o braço do senhor. Um mais jovem. O jovem da foto.
- Pai, o senhor está bem?

Ela ficou estática com as fotos na mão.

O jovem a olhou. Viu as fotos em suas mãos. Então, sorriu com certa tristeza.

- Ah, é isso.

Abriu a porta do carro que estava parado logo ao lado deles.

- Entre papai. Já estou indo.

O senhor entrou no carro. O jovem apertou o cinto de segurança dele. Fechou a porta. Voltou para falar com Ana.

- Desculpe-me. Ele anda com alguns problemas... sérios. Eu tento dar a ele coisas simples para fazer, para ele não se sentir inútil. Ele era um homem muito ativo, sabe. Não esperava que fosse causar problemas ele pegar as fotos enquanto eu buscava o carro.Desculpe-me mais uma vez.

Ana sentiu uma grande tristeza naquele jovem que tinha sua idade. Sentiu vergonha por ter sido tão agressiva.

- Tudo bem. Não foi nada. Tome as fotos. Vocês estão muito bonitos nessa primeira foto.

-É, é uma bela foto.