LIVRE
Mylena Silva
 
 

Ele buscava, acima de qualquer coisa na vida, o momento em que despertaria para um sentimento verdadeiro, algo que despertasse o que há muito havia adormecido. Buscava antes de tudo, entender a si, para assim, entender as questões que pairavam em seu (in) consciente. Buscava a paz consigo, o sábio silêncio, os momentos de plenitude.

Visitou muitos lugares, muitas paisagens, quando enfim parou. Era uma praia, deserta, onde o sol se confundia com a água e irradiava todas as nuances mais ricas entre o amarelo e o vermelho. As árvores estavam em harmonia e o verde mostrava talvez um céu, de outra cor. Resolveu ficar ali, à frente daquela paisagem. Parou à distância e sentou, faltava um pensamento para o crepúsculo. E ali surgiu então a figura, uma doce e delicada jovem, que como em um ritual, dançava.

Ela dançava como se não houvesse gravidade, como se uma pena fosse mais pesada. Dançava e se confundia com os raios que outrora estavam solitários apenas procurando contemplação. E ele admirava. Sentia como se aquilo fosse a única cena que faltava para ele chegar ao seu objetivo. Contentamento. Desejou nunca mais acordar, como se fosse um sonho bom. E vendo que era real, desejou não sair mais dali, quem dera, congelar o tempo.

Mas chegou a noite. E ele sonhou. Com ela. Será que ainda poderia vê-la? Tentou entender aquela dança, aquela liberdade que ele tanto buscava. E ela tinha.

No outro dia, como em hora marcada, voltou. Ele, e ela. A mesma dança, o ritual. E ele a olhar. O sol, o mar, o crepúsculo, as nuances, a moça. Resolveu se aproximar. Curiosidade tanta, por que ela era tão livre? E assim aconteceu por dias.

Continuou timidamente, apenas a contemplar. Ela o notava, mas não ligava, continuou livre, como se não se importasse com o que alguém iria pensar do que fazia, ou mostrava. Dançava leve, como uma andorinha a gorjear.

E como um menino, que não sabe esperar, certo dia não se conteve e a chamou. Interrompeu a dança, mas era por uma causa que ele considerava justa. Havia se apaixonado por aquela imagem, como algo inexplicável. Talvez aquele sentimento que ele buscava, puro, verdadeiro. Não sabia quem era ou porque fazia aquilo. Não podia deixar de se aproximar.

_ Não sei quem você é, nem por que vem todos os dias cumprir esse ritual. Mas sei de uma coisa. Fez-me despertar, acordar, e ver que apenas ao admirar seus simples gestos ainda posso sentir algo puro, intenso. Pode me dizer como consegue sentir tamanha liberdade? Apaixonei-me pela sua liberdade, ou seria por você..._ comentou ele, com a ansiedade do mundo.

_Certamente sou livre, e percebi que consegui fazer com que você também o fosse, ao me ver dançar. É uma dança ao vento...Uma busca interior.
Quanto a se apaixonar, pode-se dizer que o amor é como esse vento ao qual aclamo, não se pode ver, mas se sente. Prazer, meu nome é Luna.

E assim foi pelo resto dos dias. Dança, amor, liberdade a dois.