QUANTOS TERNOS CUSTA UMA GRAVATA?
Leo Guerra
 
 

Eis que havia chegado o convite em casa. Evento memorável, aniversário do diretor do conselho da CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) da região, que por sinal, era também meu sogro na ocasião.

Minha mãe, com toda sabedoria que toda mãe deve ter, prestou sua solidariedade em me auxiliar na escolha do agrado que, figura de tal importância como o dito cujo diretor deveria receber. Homem de negócios, relativamente conhecido nas redondezas, tinha muito gosto por gravatas finas, elegantes e de renomadas grifes.

Imaginei ali, este ser o suvenir (sim, agora denomino-as suvenirs) ideal para presentear o homem o qual eu devia respeito. Afinal de contas, de nada se opôs contra meu namoro com a sua amada filha mais nova, pelo menos não explicitamente.

Fomos, eu e minha mãe, à cidade vizinha onde existia famoso estabelecimento que possuía em seu estoque as mais elegantes gravatas da região. A loja já impressionava pela sua calçada, os demais estabelecimentos circunvizinhos cheios de bitucas de cigarros, papeis diversos entre outras nojeiras em suas calçadas frontais, contrastavam com a limpeza impecável da passarela que me aguardava, com um "Seja bem vindo" escrito em diversos idiomas e adornos de pedras na calçada mais nobre que se tem notícia.

Ao entrar, tive o pressentimento de estar em algum harém árabe cercado das mais belas concubinas, embora todas fossem ocidentais. A bela, pra não dizer descomunal atendente veio nos receber com um sorriso que faria qualquer homem hipotecar a alma, afim de satisfazer qualquer dos seus caprichos. Ao nos apresentar as gravatas, a vendedora despejava uma série de informações sobre tecido, nacionalidade, costura e diversos outros detalhes, os quais, jamais imaginei que poderiam ser atribuídos à uma gravata. Passadas as devidas apresentações, acabamos por escolher uma gravata amarela, com discretas listas azuis intermitentes.

Chegamos ao momento da finalização da compra, o pagamento. A esta altura eu já imaginava que aquela gravata simples e sorridente deveria ter um valor de mercado não tão sorridente como expressava, porém quando a bela afrodite me anunciou o preço daquele adereço, consegui realmente ficar muito mais surpreso do que esperava. Digamos que minha esperada guitarra no final do ano, teria de esperar mais um pouco. Com ajuda da minha mãe, e da minha operadora do cartão de crédito, sai da loja com a gravata e um indício de lágrima prestes a escorrer pela face. O embrulho do presente era sublime, daqueles que guardamos para estocar cacarecos posteriormente.

A festa correu tranquilamente, o meu presente, tive de deixar numa enorme caixa destinada aos mesmos no hall de entrada do salão. Naquele momento percebi minha enorme estupidez em esquecer de escrever meu nome no embrulho, para que meu sogro pudesse relacionar o genro à tão elegante agrado.

Umas 3 semanas depois, meu relacionamento com a filha do dono da gravata havia terminado, sim, ainda hoje me vem de assalto uma ponta de arrependimento quando penso nessa passagem da minha vida. Na verdade, lembrei-me desta história por ter visto recentemente uma foto do meu ex-sogro no jornal, acusado de atos comerciais ilícitos. Não sei ao certo definir como me senti ao perceber que na referida foto, ele usava a gravata que lhe dei de presente.