Tema 180 - VESTÍGIOS
BIOGRAFIA
HERANÇA DE LÁGRIMAS - O LIVRO
Luisa Ataide

"È minha alma que se desprende dos laços terrestre e anda pairando no espaço com sua irmã fugitiva"
- Lopo de Souza

Um dia me perguntaram: Se você tivesse que salvar um livro, que livro salvaria para toda a eternidade? Ao que respondi; estou salvando o livro Herança de Lágrimas. Escrito em 1871 pela escritora portuguesa Ana Augusta Plácido, que por ter contrariado a moral da época, abandonou o marido e se atirou nos braços do romancista Camilo Castelo Branco, assinava com o pseudônimo de LOPO DE SOUSA. A escritora escreveu o primeiro livro, em 1863, ainda em cárcere - Luz Coada de Ferros. Ana assim como Camilo foi presa em 1860 acusada de adultério. Eis a história do segundo livro: Passados alguns anos, residindo em Seide, encomenda o escritor ao Conde de Margaride a edição do livro que viria a chamar-se Herança de Lágrimas. O amigo contrata a editora Vimaranense que terminou por fechar as portas e os livros restaram encaixotados e esquecidos no sótão da casa aonde habitara o Conde. Entretanto, o prédio acabou por tornar-se mercearia e alguém achou uma mina de cartuchos para enrolar açúcar e café. Quando a caixa de livros chega às mãos da família em Seide, restam poucos exemplares. Uns, nos Conta o escritor Alberto Pimentel, em Memórias do Tempo de Camilo, acreditam ter chegado à família meia dúzia de livros, ou menos. O certo é que passados cento e trinta e sete anos, possui o Museu CASA DE CAMILO um exemplar, e segundo a Casa ; em estado de conservação precário. Um dia, tive a nítida impressão de ver à fotografia de um homem de idade e óculos redondo a minha frente. Eu não conhecia o rosto. Dias depois fazendo uma pesquisa de literatura portuguesa deparei-me com a mesma fotografia . Era Camilo Castelo Branco, o Romancista. Quando soube a quem pertencia aquele rosto, lancei-me avidamente a pesquisar a vida do escritor. Chegou-me às mãos em 2006, por esses acasos da vida, um exemplar da obra de Ana Plácido. Não sei se efetivamente estou salvando um livro. Estou salvando, possivelmente, o último exemplar perdido. Estou retornando a Portugal o que lhe pertence. A obra será doada em 24 de Setembro de 2008 à Biblioteca Nacional, em Lisboa. Em poucas horas atravesso o Oceano em direção ao Velho Mundo. Os vestígios de Ana e Camilo em minha alma serão sempre como digitais do espírito. Temos laços espirituais com certeza. Nunca saberei por que fui escolhida para entregar o livro, nem é importante saber. O que sei, é que quando percebi a incumbência, inscrevi-me no Concurso Literário Raquel de Queiroz. Escrevi o conto Cemitério de Estrelas uma narrativa ficcional sobre Camilo e um poema inspirado em ANA PLÁCIDO, Coloquei toda minha alma no Conto. , que foi premiado, mas ganhou a premiação em dinheiro: a poesia MEMÒRIAS BRANCAS. Paguei assim as despesas da viagem. Como ninguém é só espírito, aproveito para passar minhas férias conhecendo alguns países da Europa. Ah, Vou conhecer a Torre Eifel, Uh la, Lá!!!!!

Protegido de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto acima sem a expressa autorização do autor