Tema 189 - ANGÚSTIA
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FLUXO DE INCONSCIÊNCIA
Tania Montandon

Queria saber o que é viver sem sofrer, sempre poder contar mais momentos de alegria que de desespero, não sentir culpa pela guerra que ocorreu mais de trinta anos antes de que o mundo me considerasse existente... Alma, espírito, qual a diferença? o que é isso?

ó senhor da Razão apieda-te duma alma nascida e fundida na emoção... crua, nua, fervente no clamor da redenção.

O tempo que tanto me fugiu por milésimos de segundo resolve não mais me deixar em paz. Arrastam-se os segundos na minha tortura de os acompanhar. Estórias, devaneios, diálogos interiores, imagens mil entrelaçadas, nada, nada. Nada consegue fazer o tempo passar. De repente, a luz, o raio, os estridentes gritos surdos-mudos fazem-me arrepiar. Sim, é ele de novo... mais forte e poderoso que nunca. O medo em sua forma humana de pânico domina este frágil espírito a balbuciar: morte, morte. Em busca da liberdade de ser eu, viajo sem cessar entre hospitais, livros de psicologia, psiquiatria, psicanálise, literatura, filosofia... Meu ponto de interrogação essencial desliza dum interesse a outro, sem descanço, sem arrego, sem sossego.

- Sossega, leao; diz a química da injeção, tão bravamente involuntária. Só, sem defesas, o organismo reclama, nausea, inquieta-se, procura uma via de saída para ser ele e não, como poucos percebem, qualquer ideal ou completude de discípulos da perfeição. E o desejo? Por vezes ambicioso, por vezes calmo e dorminhoco.

Mar, luar, Sol, praia pra banhar. Que saudade, minha mãe Natureza, onde estás? Procuro-te na turba, na janela, no olhar. Sinto-te na brisa, roçando meu rosto, abro o olho devagar, sem nenhuma destreza:

- Quem sou? Onde estou? Eis este meu fardo? Meu corpo enjaulado, uma alma sentindo o ardor da solidão no peito e também um certo amor pelo que ainda não consigo nomear. Vida! Seria tudo isso que sinto um clamor, neste deserto orgulhoso e clandestino, um amor à vida, aos seres, à alegria?! Com tantos anos de assumida melancolia, poderia ainda despertar-me esse amor à vida, com tanta dor, feridas, lutas e as mãos tão frias?!

Este corpo que tanto pesa-me a existência e parece-me desconhecido, não o possuo. Porém lhe devo cuidados. Lavar, carregar, sentir esse corpo desconhecido, pele, órgãos, quase uma essência externa à qual devo nomear aparência e, minha?! Minha é essa aparência? Sim, eu sei, não há respostas fáceis. De tudo sempre fica um mistério, talvez vital à minha real essência.

Falta. Nela, perco-me ao desfiar minhas motivações emaranhadas às mais intensas emoções e, por incrível que possa parecer, chego com razoável facilidade ao âmago, bem próximo da velada causa que sustenta e alimenta meu ser perante outros da pretensa humanidade. Fina camada esta entre minha verdade e a recalcada sociedade. Fina por demais, sensível até o literalmente 'não poder mais'. Limite perigoso, lúcido, escorregadio e repleto de armadilhas sensoriais, culturais, instintuais, onde não creio chegar por escolha. Bolha de sabão, veja! Não toque! Sexualidade? O que é isso? Que relação tem com psicose?

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