Tema 192 - MEU TESOURO!
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O NAVEGADOR
Pedro Brasil Jr.

Naveguei por todos os aceanos da minha inspiração na busca de um segredo.
Lendas perdidas nas profundezas da alma e envoltas em mistérios assustadores.
Mapas desenhados em pergaminhos antigos, todos sem uma indicação precisa.
As velas da minha embarcação volta e meia eram surpreendidas por ventos sorrateiros e na medida em que me perdia por entre as ondas, monstros de todos os tipos surgiam para arrepiar meus sonhos.
Valente em meu timão, lutei por infindáveis vezes contra todas aquelas forças e muitas vezes, me peguei numa calmaria tão envolvente que tudo ao redor parecia ter parado.
Menos o tempo!
Fiz cálculos mirabolantes por entre estrelas e raios do sol e minhas madrugadas gélidas quase me fizeram desistir da empreitada.
Mas bastava cada alvorecer para que minha jornada prosseguisse, em meio àquele desconhecido sem fim por onde meu veleiro singrava sem um destino aparente.
Fui pilhado inúmeras vezes por piratas desalmados que levaram, cada um a seu tempo, um tanto de minhas forças e um outro tanto das minhas esperanças. Alguns, mais audaciosos ainda, levaram em parcelas significativas, um outro tanto dos meus sentimentos mais preciosos.
Ainda assim, segui sorrindo e me deliciando, vez ou outra com a majestosa dança dos golfinhos na água e o surpreendente balé das gaivotas no cenário todo azul do céu.
As purpurinas de uma cortina imensa recaiam quase todas as noites sobre todas as coisas e estrelas cadentes singravam o céu na tentativa de me mostrar o caminho certo.
Só que cada uma apontava numa direção bem diferente e isto me fez se perder ainda mais em minha aventura desenfreada na busca desse segredo implacável.
Ao longo do tempo em que me detive navengando não recordo de ter visto ou se aproximado de alguma ilha ou de alguma terra firme. O tempo todo foram somente as águas e as nuvens as companheiras dessa jornada sem sentido, por onde me peguei só em devaneios constantes.
Já não adiantavam mais os velhos mapas e tampouco a sequência de estrelas que eu criei aleatóriamente. Também não me serviam de guia os raios do sol e decidi deixar a embarcação ao léu só para ver onde as ondas me levariam.
Numa noite densa, recordo da luz de um farol distante e preparei tudo para chegar até ele. Mas adormeci vencido pelo cansaço e quando despertei dos pesadêlos terríveis que tive, me peguei vagando por uma ilha mágica, indescritível e foi ali que descobri finalmente o que tanto buscava.
Agora eu tinha certeza de que a vida, mesmo diante de tantos percalços, era o tesouro mais valioso e a aventura incógnita me havia mostrado o quanto é importante apenas ser o que se é; porque afora nossa existência, nenhum tesouro perdido em qualquer lugar, pode ter tamanho valor quanto o brilho efervescente que só a alma pode nos oferecer sem que seja preciso aventurar-se por estes oceanos de ilusões.

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