Tema 194 - EXCLUSIVIDADE
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TER EXCLUSIVIDADE PODE ATÉ SER DIFÍCIL, MAS SER EXCLUSIVIDADE É MUITO NATURAL!
Capitu RJ

Tem coisas na vida que nós sabemos que são muito difíceis.Outras sabemos que são tão difíceis, mas tão difíceis que beiram o impossível; mas na verdade sabemos que impossíveis mesmo muito poucas o são.

Analisando uma dessas coisas muito, muito, muito difíceis, lembrei-me da exlusividade.Não de se ter algo exclusivo.Isso até é difícil, mas de se ser exclusiva em alguma coisa.Essa sim é tão difícil que se encaixa na lista das coisas que beiram o impossível!

Para que você, meu caro leitor, entenda melhor do que estou aqui a dissertar, deixe-me primeiro apresentar-lhes uma definição de exlusividade:

Exclusividade: característica do ser exclusivo; que é essencialmente exclusivo.

Hum...Não parece muito esclarecedor...Acho que posso melhorar isso...Que tal definir exclusivo?

Exclusivo: único, sem outro exemplar igual;
Peculiar a uma única coisa ou pessoa;
Que só um detém, entre outras definições do gênero...

Baseado nisso, lembrei-me de como foi difícil me ver exclusiva em alguma coisa.

Tal pensamento começou a me perseguir ainda na época da Pré-escola.Como não poderíamos ser o aluno exclusivo da "tia" (embora muitas mães pensassem que éramos) , todos os coleguinhas queriam exibir uma lancheira exclusiva, um estojo exclusivo, uma borracha, um apontador, uma vasta lista de material escolar exclusivo.Até os brinquedinhos que levávamos para compartilhar na hora do recreio seriam mais atraentes se fossem exclusivos.Mas sempre tinha um desmancha prazeres que tinha um exatamente igualzinho ao meu.E lá se foram meus segundinhos de celebridade escolar!

No segundo segmento da escola também não era direfente.Ser a aluna exclusiva aí era mesmo um caso impossível, já que a cada ano a turma só crescia.A diferença era que além da vasta lista de material escolar, entravam os acessórios, porque aí os brinquedinhos, aqueles da Pré-escola, já não tinham mais graça nenhuma mesmo.A onda eram os acessórios exclusivos!Todas as menininhas da minha idade queriam exibir um prendedor de cabelos, fichários, agendas, bijouterias.Tudo exclusívísssimo!E os cadernos com cheirinho na capa então?Tinha, que ser os exclusivos dos exclusivos!Mas não adiantava...sempre aparecia alguém com um igual ou, no mínimo, muito parecido com os meus.

Na adolescência então a coisa degringolou de vez!

Além de perceber que nenhum dos meus acessórios eram exclusivos, eu percebia também que nem as situações complicadas que eu me orgulhava de enfrentar eram exclusivas e que nem eu era a exclusiva de ninguém!Ou seja, eu não era a única adolescente que estava em crise existencial, não era a única a enfrentar a separação dos pais, muito menos menos lidar com o apertado orçamento familiar que limitava minhas idas ao cinema era exclusividade minha.Parece que um bando de gente sem imaginação resolveu passar pelas mesmas situações que eu achava que eram exclusivas à minha complexa pessoa!

Que saco!Nem ser uma exclusiva adolescente problemática eu posso?

Mas desanimador mesmo era perceber que minha melhor amiga, aquela para quem eu contava meus segredos mais profundos, compartilhava todos os meus programas favoritos e com a qual tirava minhas mais divertidas fotos, também não era amiga exclusivamente minha...poderia até ser a minha melhor amiga, mas estava longe de ser amiga só minha.Ela também era amiga de outras amigas além de mim; o que é muito justificável, afinal ela é muito legal mesmo!

Mas o pior de tudo era descobrir que aquele carinha gato da tuma e que eu levei um tempão para conquistar, também não era meu namorado exclusivo.Safado!E eu perdendo um tempo que poderia ser exclusivamente meu se não tivesse dividido com ele!Aff!

Aí veio a almejada fase adulta!

Fase boa!Já estava madura para lidar com a falta de exclusividade e compartilhar já não era mais nenhum problema.

Entendi logo que o professor do cursinho não dava aulas exclusivamente para mim, portanto teria que me esforçar muito se quisesse conqusitar uma vaga no vestibular.

Também na empresa em que eu trabalhava o setor não era exclusivamente meu, o cargo também não era, nem a mesa que eu ocupava, e até o computador em que trabalhava era compartilhado. Exclusivo era só o crachá que eu usava, mas ele não fazia de mim uma funcionária exclusiva.

Mas foi exatamente nessa fase adulta que eu descobri algo incrível sobre a exclusividade!

Tudo começou quando arranjei um namorado que eu não tenho certeza se era exclusivamente meu mas que me fez um pedido exclusivo de casamento, o qual, por ser exclusivo, eu aceitei.Desse casamento veio uma gravidez que foi exclusividade minha!Não estar grávida.Isso tinha montes ao meu redor, mas gerar o meu filho era uma coisa que só eu podia fazer.Contemplando minha gravidez percebi que ela era única, peculiar só a mim!Entendi então que ser a mãe do meu filho era uma dádiva exclusivamente minha, da mesma forma que ele era o meu filho exclusivo.Único.Ninguém além de mim tinha outro igual.

Nesta hora parece que um universo de exclusividade se abriu diante de mim!

Lembrei que eu sempre fui a filha exclusiva dos meus pais.Embora tivesse irmãos nenhum deles era igual a mim!Nenhum deles tinha o meu rosto, minha voz, tinha nascido naquele dia, daquele mês, daquele determinado ano...isso era exclusividade minha dentre os filhos.Também a forma que meus pais lidavam comigo sempre foi uma exclusividade minha!

Lembrei que eu era a irmã exclusiva dos meu irmãos!Que brincar, rir, e até brigar com eles do meu jeito era exclusividade minha!Do meu jeito, só eu fazia!

Por fim entendi até que complicar o que é tão fácil de achar pode ser outra exclusividade minha,já que busquei durante anos por uma exclusividade que já nasceu comigo.

Ter coisas exclusivas, fazer coisas exclusivas pode até ser trabalhoso mas ser exclusiva é natural a todo mundo porque nascemos únicos.Já nascemos com exclusividade de sermos quem somos e como somos.

Eu sou eu.Você é você e ponto final.

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