Tema 195 - TRAPAÇA
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SAFADA MESMO
Bóris Yan

Eram dezenove horas em ponto e o jantar já estava sobre a mesa.
_ Cunha te apressa nesse banho que a comida vai esfriar amor!
_ Já vou indo. Responde o marido.
Enquanto se vestia pensava em como a esposa era prestativa e amável, todas as refeições no horário correto, a casa impecável, as filhas eram um primor.
Que mais um homem pode querer. Concluía feliz.
_ Hoje tem picadinho de legumes. Disse uma das meninas.
Todos juntos para a refeição e outra das meninas fez a tradicional oração de agradecimento e comeram com satisfação o picadinho.
_ Cunha vou à igreja.
_ De novo amor? Questionou o maridão.
_ É claro benzinho! Todo dia é dia de missa. Esclarece Dorinha.
_ As mocinhas ficam responsáveis pela cozinha e pelas louças enquanto papai vai jogar a sinuquinha com os amigos no bar. Ordenou a mãe.
Despediram-se calorosamente.
Uma quadra da casa e o véu já estava na bolsa.
Duas quadras da casa e a blusa já contava com menos dois botões abotoados.
Dorinha pega um ônibus.
Minutos depois desembarga no Horto.
O primeiro que ela vê pela frente é o Vieira.
Cumprimentaram-se discretamente, mas Dorinha vai logo dizendo:
_ Topas um bacanal hoje?
_ Hoje?
_ Agora. Eu você e mais um.
_ A senhora é safada demais Dona Dorinha!
_ Topas ou não? Já impaciente.
_ O Cunha é boa pessoa, não merece ser traído. Qualquer dia ele descobre...
_ Não faz piada que acho graça. Disparou a mulher.
Enquanto ainda falavam o Augutinho da farmácia se aproximava.
_ Augustinho venha já aqui. Solicitou Dorinha.
_ Fala madame. Ironizou o farmacêutico.
_ Topas um bacanal? Eu você e o Vieira?
_ Bacanal? Assustou-se.
_ Isso é nojento...
_ Nojento uma vírgula! Escuta, vamos os três a um lugar reservado.
_ Não sei, não sei. Analisava o Vieira.
_ A minha mulher não é besta igual o seu marido Dorinha, se chego tarde em casa ou se ela desconfia de alguma coisa estou frito, entendeu? Fritinho. Disse Augustinho.
_ E ela nunca desconfiou de nada... Agora era Dorinha quem ironizava.
_ Sabe Dorinha, tu és safada mesmo. Definiu Augustinho.
_ Eu topo, pegamos um táxi e rachamos as despesas. Concluiu Vieira.
_Ótimo. Dizia Dorinha felicíssima.
Entreolharam-se, os homens se olhavam meio de lado, Dorinha excitadíssima.
_ Hoje não. Por mim mixou. Disse Augustinho.
_ Vamos homem, deixe de frescura! Que a Dorinha é uma safada mesmo e todo mundo sabe, deixe esse pudor de lado homem. Insistia Viera.
Dorinha já estava irritada.
_ Não por quê? Logo hoje? Dizia Dorinha já aos berrou.
_ Escuta, vamos fazer o bacanal amanhã sem falta. Propôs Augustinho.
_ Por mim fazia essa farra hoje. Queria Vieira.
_ Por mim também. Defendia Dorinha.
_ Não... Amanhã sem falta.
_ Vou procurar é outro hoje, detesto homem com frescuras. Resmungava Dorinha
_Amanhã sem falta. Pedia Augustinho.
O Vieira estava mais soltou, porém Augustinho estava constrangido com a novidade.
Então combinaram tudo para o dia seguinte. Os três se encontrariam às vinte horas atrás da casa do comércio, lá decidiriam o destino da farra.
_Façam valer a pena essa frescura toda. Exigia Dorinha.
Despediram-se.
Augustinho foi para casa remoendo a idéia que Dorinha era uma safada mesmo. Um marido tão bom, uma família tão bonita e essa mulher já foi para cama com quase toda cidade. Que horror! Sentiu um profundo remorso e pesar e pensou em sua própria família.
O farmacêutico passou a noite toda sentado no sofá com a cabeça entre as mãos, pensava numa forma de desmascarar aquela mulher que era safada mesmo.
É certo que contando sobre Dorinha, contaria também sobre seu envolvimento e sobre o envolvimento de metade dos amigos do casal, fora aqueles que ele não conhecia fora os anônimos que Dorinha garantia que conhecia muito bem.
_Mas tinha que ser com o Cunha! O policial honesto! O pai devotado! O marido fiel! O amigo do colégio!Analisava Augustinho.
A reflexão sobre as conseqüências da verdade durou a noite toda, enfim, amanheceu.
Hora de abrir a farmácia.
No caminho para o serviço ele foi repassando o plano mal articulado de confissão, devagar.
Lá pelas nove ou dez horas o telefone toca, era Vieira.
_ Bom dia homem, "tá de pé"?
_ O quê?
_ A nossa brincadeira com a Dorinha, é hoje, lembra?
_ Não diz isso Vieira.
_ Não diz? Para com essa história, vai pegar mal essa tua cerimônia. Deixa disso, vai dizer que está com vergonha de mim? Olha que vou pensar outras coisas. Você sabe que a Dorinha é safada mesmo! Argumentava com fluência Vieira.
_ Sei, sei, mas não posso falar agora, nos falamos a noite.
Que angustia desgraçada.
Pouco movimento da farmácia.
Dia "parado".
Sol quente.
Que situação embaraçosa!
Depois do almoço, o policial foi fazer a ronda no bairro e passou pela farmácia.
Cumprimentou todo mundo na calçada, sorridente, alegre, bonachão.
Augustinho sentiu o mais profundo remorso do mundo outra vez.
_ Oh, Cunha. Gritou.
_ Fala doutor, Disse simpático.
_ Cunha preciso te falar senão explodo. Passei a noite em claro. Estou no meu limite psicológico. Estou morrendo...
_ Fala homem ou vai ter um peripaque. Disse sorrindo.
Um minuto de silencio.
Expectativa mútua.
O Augustinho com o rosto vermelho como um tomate.
O Cunha desconcertado até.
_ Fala criatura. Dizia sem graça o policial.
_ Cunha somos amigos há muito tempo, desde o colegial, você lembra? Você é um bom homem...
_ Fala rapaz. Insistia.
Silêncio na farmácia vazia.
_ Tua mulher te trai com outros homens, pronto, falei.
_ Mais que historia e essa Augustinho? Exaltou-se o marido.
_ Juro! Te juro. Dorinha te trai com todo mundo. Perdão. Tinha que falar.
_ E como é que você me diz uma coisas dessas? Você tem provas? Disse ele já rouco.
_ Oh Amigo, todo mundo sabe. Você merece saber a verdade. Você merece tirar essa mulher da sua vida. Deixe essa mulher. Aconselhava Augustinho depressa.
Agora era Cunha quem estava visivelmente nervoso.
Olhou para os lados certificando-se que ninguém os via ou ouvia e agarrou Augustinho pelo braço com força.
_ Deixa de ser cretino, seu moralista falso. Falava baixinho.
_ Como assim?
_ Só você já dormiu com a minha mulher umas quatro vezes. Continuou.
Augustinho arregalou os olhos com medo.
_Agora está aqui se fazendo de santinho comigo. Se você abrir a boca para falar isso te novo eu te mato, juro que te mato. Disse com raiva.
_ Mas Cunha...
_ Cale essa maldita boca. Ordenou Cunha.
_ E tem mais, hoje você vai fazer o tal bacanal que minha mulher te pediu ontem e vai ter que ser junto com o Vieirinha heim! Exigiu.
O farmacêutico não tinha palavras e nem forças para mover um músculo sequer.
_ Ou você faz ou te arrebento! Eu te arrebento seu hipócrita.
Augustinho estava petrificado e sem saber o que fazer diante da situação. Trêmulo. Quase sem respirar direito.
Cunha deu um tapinha na cara do amigo e falou devagar.
_ Ta olhando o quê? É isso ai, eu sou safado mesmo.

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