Tema 196 - FALANDO SÉRIO
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O TATU E A PORTEIRA DESAPARECIDA
Vanderlei A. Araújo

Pela manhã,de mais um dia de trabalho no campo, saímos da cidade e pegamos a rodovia em direção a capital. Dez quilômetros depois deixarmos o asfalto e entramos em uma estrada de terra que nos levaria até uma fazenda. Logo depois, esbarramos numa cerca, fechando a estrada, nela havia uma porteira. Desci para abri-la. Tentei uma, duas, três vezes. E nada. Ela não cedia. Estava muito pesada. Meu colega, que dirigia o jipe, desceu para me ajudar. Só depois de muito jeito e força conseguimos abri-la.

Fechá-la foi outro trabalhão. Depois seguimos viagem até a fazenda que ficava as margens do rio Araguaia. Depois de, aproximadamente, duas horas, voltamos. Mas, ao nos aproximarmos de uma cerca, notei que meu colega olhava de um lado para outro procurando algo. Diminuiu a velocidade do veiculo e parou. No local onde havia a porteira a cerca estava aberta.

- O que foi, perguntei.

- Não sei...você se lembra desse lugar, dessa estrada? Aqui não havia uma porteira? Aquela difícil de abrir.

- Sim, respondi. Mas tem certeza que não é outra estrada?

- Impossível, não havia outra.

A porteira não estava lá. Aquela porteira, pesada, difícil de abrir, tinha desaparecido misteriosamente. Verificamos, e ainda havia as marcas das rodas do jipe no chão. Elas estavam lá. Nós passamos por ali com certeza. Não tínhamos mais dúvi-das. As marcas do carro eram suficientes para provar que estivemos naquele local.

Havia um mistério no ar. Quem tirou a porteira ? Como ela desapareceu? Perguntamos a alguns trabalhadores de uma plantação de arroz, e eles disseram que não viram nada. Sem encontrar uma explicação para o desaparecimento da porteira, decidimos seguir viagem de volta para a cidade.

Quando já estávamos a uns cem metros da cerca, apareceu em nossa frente um tatu, obrigando-nos a frear o jipe, bruscamente. Por alguns minutos ficamos olhando o animal na esperança de que ele saísse da estrada. Mas ele parecia uma es-tátua. Para que ele se apressasse, buzinamos. Ele nem se mexeu. Buzinamos mais uma vez. Nada. Ele não saía . Imóvel, apenas olhava para nós. Buzinamos novamente, mas ele continuou imóvel, insistindo em não sair da nossa frente. Só nos restou descer e pegá-lo.

Desci e me aproximei dele. Nem com a minha presença ele se mexeu. Não fez nenhum movimento para fugir. Simplesmente, continuou me olhando. Parecia hipnotizado. Peguei-o e o levei para o jipe.

Meu colega sugeriu leva-lo para a cidade e fazer dele uma farofa.

- Um tatu magro como esse, parado no meio da estrada, deixando-se pegar facilmente, só podia estar doente. Nós vamos deixá-lo aqui, falei.

Em seguida, o levei para fora da estrada, cuidando para que não corresse o risco de ser atropelado. Quando o coloquei no chão, como um foguete, ele saiu em disparada carreira e sumiu no mato como se estivesse fugindo de um predador faminto.

Durante muito tempo, me lembrei desse estranho episódio. E muitas vezes, pensei no comportamento daquele tatu. Cheguei até a pensar que ele talvez quisesse nos falar alguma coisa. Quem sabe, contar onde estava a porteira. Do jeito que as coisas aconteceram, era impossível não ter esses pensamentos.

Na época, contamos esta história para alguns amigos e colegas de trabalho, mas ninguém acreditou. Disseram que nós não estávamos falando sério. E nem aceitaram a história de que voltamos pela mesma estrada. Todos teimavam que a cerca e a estrada eram outras. Tampouco, acreditaram na história do tatu. Para eles era impossível pegar um tatu com tanta facilidade. Alguns disseram até que estávamos bêbedos ou malucos e ainda nos aconselharam a procurar um médico ou psicólogo. Nunca bebemos em serviço. Essa historia é verdadeira, podem acreditar. Falo sério!!!

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