Tema 197 - TEMA LIVRE
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AMIGA ÍNTIMA DA ESPERANÇA
Sara Regina Carvalho Lacerda

Aliúce estava no ônibus, sentada junto à janela como era de costume. Seus longos cabelos negros assanhavam-se com o vento forte que entrava pela janela, mas ela não se importava.

O dia estava muito abafado. Aliúce pressentia que ia chover a qualquer momento. Ela já sabia: quando o dia estava abafado daquele jeito é porque ia chover. Ela não precisava de meteorologia para saber, sabia de vivência.

Aliúce vinha pensando em sua vida.

Ela era uma escritora, mas nunca publicara um livro. Tinha cinco livros já prontos. Faltava-lhe coragem para mandar para uma editora. Não achava seus livros bons o suficiente para serem aceitos pela massa e aclamados pela crítica. Por isso os escondia para si.

Aliúce trabalhava como professora numa escola pública para poder se sustentar. Nas horas vagas, que eram bem poucas, ela escrevia seus romances.

A vida era dura. Aliúce mal tinha tempo para dormir. Ficava acordada até tarde planejando aulas ou criando suas histórias, mas ela não reclamava da vida. Se deixasse de dar aulas, morreria de fome. Se deixasse de escrever, morreria de tristeza.

Aliúce morava sozinha numa quitinete a poucos minutos do centro da cidade de Ponta do Sol.

Aos trinta anos de idade, Aliúce nunca se casara, tampouco tivera filhos. Suas preocupações sempre foram estudar, ter um emprego, sair da casa dos pais e ser escritora profissional.

Há cinco anos, conseguiu um emprego e alugou uma quitinete. O lugar era muito pequeno. Tinha um quarto, sala, cozinha e um banheiro. Mas só para ela estava bom.

Ela gostava de sua vida e se considerava feliz. Era amiga íntima da esperança e tinha fé em Deus que, quando fosse uma escritora profissional, sua vida melhoraria um pouquinho.

Aliúce se levantou da cadeira e puxou a cordinha.

O motorista freou bruscamente e Aliúce desceu do ônibus.

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